Nunca pensei que Jung fosse render tanto neste blog, mas vamos lá! Vamos dar uma olhada no livro mais polêmico dele, chamado Uma Resposta a Jó. O livrinho é tido como um dos mais accesíveis, embora o conteúdo tenha causado um rebuliço nos meios intelectuais e eclesiásticos. Diz Jung que ele levou dezenas de anos pra se decidir se escrevia o livro ou não, por tratar-se de uma questão cara a ele, como também tinha medo de ser mal interpretado. Ele alegou várias razões para finalmente editá-lo, entre elas, que muitos de seus pacientes sempre terem pedido que ele escrevesse algo sobre o assunto, como também depois de Aion, o livro que falava de Cristo, ele precisasse terminar o pacote e falar de Deus pai. Finalmente ele resolveu disparar a metralhadora, e vamos ver onde ele foi parar desta vêz!
- Primeiro, ele diz acreditar que nada do que ele possa dizer, poderá atingir Deus mesmo, se ele existir.
- Segundo, ele afirmou que o livro era sobre a ' imagem' que o mundo Ocidental (e Luterano por parte dele), tinha sobre Deus, e que ele não estava tentando fundar uma nova doutrina, ou religião.
- Embora ele tenha feito essa declaração acima, no livro muita gente tem a impressão que ele está sendo maroto, ou sarcástico, e que tem muita coisa com sentido dúbio. O livro também é carregado de idéias gnósticas e orientais.
- Como no livro anterior, Aion, Jung começa a dissertar sobre o que se passava na psique das pessoas na época em que o livro da bíblia, Jó, foi escrito. Esse livro é, provavelmente, o mais antigo dos livros bíblicos, escrito 500 ou 600 anos AC, antes mesmo de 'Gênesis' , como também as odisséias de Moisés, Davi e os profetas. Então o livro de Jó descrevia ainda um Deus com facetas Politeístas, ou vários deuses em um.
- Seriam necessários uns 10 blogs deste pra poder explicar como Jung chegou às conclusões dele, mas segue abaixo os temas principais do livro, que podem soar incríveis pra quem não está acostumado com esse tipo de leitura, mas é o que tá escrito lá, e aperte os cintos!
- Primeiro, o livro de Jó era sobre um homem pedindo a ajuda de Deus contra o próprio Deus! (tem alguém ainda aï?)
- O livro questiona a visão de que, na imagem do Deus ocidental, hoje em dia, só cabe tudo de bom e positivo e justo, e nunca os opostos. Tudo o que for negativo terá que ser EXTERIOR a Deus, ou seja, "fraternalmente" dividido entre o diabo, nós homens, o acaso, ou algo "permitido" por Deus. Mas Jung diz que nem sempre foi assim, e que os cristãos primitivos tinham uma outra idéia de Deus.
- O livro de Jung alega que Deus criou o mundo involuntarimente, inconscientemente (sem querer mesmo, tipo o nosso "foi mal aí"), talvez num sonho? Isso porque ainda soe (embora seja super natural dentro das igrejas cristãs) incrível que Deus criou o mundo com onisciência (segundo a Bíblia), sabendo que ao longo dos anos iria matar e mandar para o fogo eterno, literalmente, mais de 99,9% da criação humana, seja com água, fogo, ou guerras mundiais, daí ficar melhor acreditar que somos um "acidente", senão da natureza, de Deus.
- Ele diz que, no livro de Jó, Lúcifer não tinha caído dos céus ainda, e que ele tinha livre acesso a Deus. Assim, em todas reúniões de cúpula, ía lá satã fazer "inferninho" (sem sacanagem) com o coitado do Jó. O diabo então provoca Deus a lançar desgraça sobre desgraça sobre Jó, como formar de "provar" a fidelidade do homem. Jó da parte dele não podia ser mais justo, fazendo o que um ser humano imperfeito podia pra agradar a Deus. Mas não teve jeito, e Jó começou a perder tudo que tinha, de colheitas a filhos, e riquezas, como também arranjar um monte de doença.
- Após Jó passar no "teste", ele foi "premiado" pra receber tudo que tinha perdido, em dobro, embora os filhos mortos não retornassem das tumbas...
- Segundo Jung, algo de errado acontece na administração central do céu, ou do roteirista do livro de Jó, onde o vilão (Satã) consegue sair de fininho (ninguém fala mais dele), e ficam na estória apenas um Deus que parece ter sido enganado a fazer sofrer um justo, e o próprio Jó. Daí surgirem as especulações de que, ou Deus reina pela mão do diabo também, ou houve um "arrumadinho", ou esquema pra protejer o filho torto dele.
- Já partindo para o final do livro de Jó, Deus resolve ir falar pessoalmente com Jó. Pra surpresa de todos ele não vai lá pra consolá-lo, mas dá um tremenda lição de moral no cara, e ainda apareceu por lá com todo o aparato de um Deus poderoso, entre raios e trovões e voz retumbante, e de maneira intimidadora. Jó parece não estar surpreso, e fica quietinho sem tentar argumentar, pois sabia que a "chapa dele tava quente". Ele também sabia que aquele Deus era bem "esquentado", que qualquer vacilo e ele viraria pó num segundo. Então a quem recorrer quando você está sendo vítima de Deus, senão recorrer ao próprio Deus por ajuda? Foi o que Jó fez se humilhando, embora ele fosse o único certo nessa estória.
- Mas a frente, no livro de Jung, ele vem com o desfecho que realmente causou furor. Ele explica que Deus percebeu que tinha sido injusto com Jó, e que precisava dar um resposta a ele. A resposta foi encarnar na figura de um homem, para que dessa forma o dano pudesse ser reparado, e "Deus, não o Homem, pudesse ser redimido!" Agora durma com um barulho desses!
6 comentários:
Caro Robelix,
Seus comentário são muito bons, mas já li este livro, de Jung, várias vezes, e posso afirmar que vc exagera, se extende, um pouco, a meu ver, sobre as conclusões de Jung.
Segundo, a própria interpretação de Jung é confusa e suicida, pois ele apriori já confessa sua incompetência em alcançar Jeová.
Terceiro, as conclusões de Jung em muitas partes são elas mesmas dogmáticas, ao se alinhar principalmente com a confusa igreja católica.
Quarto, pra mim Jó não tem segredo algum, pois ele mesmo é a redenção de "Deus", humano, injusto, condicional, limitado, esta é a grande mensagem do livro maravilhoso, que nosso velhinho analista infelizmente nunca percebeu.
Quinto, Deus se revela aos simples, pequenos e humildes, somente através do Espírito Santo. A intelectualada ficará sempre às margens.
Sexto, continue estudando.
Sétimo, busque a Deus de coração, humilhe-se a ele como jó, e a matemática será coisa do passado.
Parabéns pelo blog.
Aguardarei suas respostas.
Marcelo Ramos - Brasilia, DF.
Li o livro, achei que Jung instiga a refletir. Principalmente na pg 98, onde ele fala sobre a necessidade de nem muito nem tão pouco em relação a fé. Gostei. Gostei também do teu post. Bastante lúcido.
Ô, Robelix! Pegou pesado com Jung, meu velho... A genialidade de alguns mestres está justamente no alinhamento de posturas aparentemente paradoxais. Jung está fora do paradigma newtoniano-cartesiano. De qualquer maneira, fazia tempo que eu não lia um texto tão interessante como o seu, em que a informação está muito bem temperada com humor. Na conta certa! Parabens pelo blog! Você acaba sendo um agente divulgador do que é bom, e assim as mãos de Deus são as suas. E como diz o pensamento latino gravado em pedra sobre a porta da casa de Jung em Kusnacht: “Vocatus atque non vocatus deus aderit" - Evocado ou não, Deus está presente. Abraço grande!
Chuang Tzu (c. 369-c.286 a.C.)escreveu uma fábula sobre quatro velhinhos que poderia dar a resposta a Jó:
Mestre Ssu, Mestre Yu, Mestre Li e Mestre Lai estavam conversando. “Qualquer um que possa ver o Não-Ser como sua cabeça, a Vida como suas costas e a Morte como seu traseiro. Qualquer um que saiba que Existência e Não-Existência são um só corpo – esse é alguém de quem podemos ser amigos”. Os homens se olharam e sorriram. Não houve desacordo em seus corações e assim os quatro ficaram amigos.
Depois Mestre Yu ficou doente e Mestre Ssu foi visitá-lo.
- Como vai? – perguntou Mestre Ssu.
- Incrível! Veja como o Criador me deixou fora de forma! Minhas costas estão tão curvadas que a região dos intestinos é a parte mais alta. Meu queixo está afundando no umbigo, os ombros se arqueiam sobre a minha cabeça e os ossos do pescoço apontam para o céu, deve ser algum deslocamento do Yin e do Yang – disse Mestre Yu. Contudo ele parecia tranqüilo e despreocupado. Mancando até o poço, ele olhou para dentro e disse: - Minha nossa! Como Ele me deixou totalmente fora de forma!
- Está desanimado? – perguntou mestre Ssu.
- De modo algum! – Disse mestre Yu. – Por que deveria estar? – Se as coisas continuarem desse jeito, Ele pode transformar o meu braço esquerdo em um galo e eu anunciarei o amanhecer. Talvez transforme meu braço direito num arco e eu acertarei um pato para o jantar. Ou quem sabe transforme minas nádegas em rodas e, se meu espírito vier a ser um cavalo, subirei em mim mesmo e sairei para um passeio. Nunca mais vou precisar de uma charrete!
“Recebi a vida quando a hora chegou e a devolverei quando a hora chegar. Qualquer um que entenda a ordem certa das coisas – que tudo acontece exatamente na hora certa – contenta-se com esse tempo, habita nessa ordem e fica intocado pelo sofrimento ou pela alegria. Nos tempos antigos isso era chamado de ‘Libertação do Confinamento’. Quando disputamos com a realidade, perdemos. Sempre foi assim. É por isso que não tenho qualquer reclamação”.
É isso que dá, humanizar Deus. Tenta limitá-lo à lógica humana, querer matematizar o infinito. Jung tentou mas esqueceu-se das lições eternas que o livro deixou para a humanidade, quanta gente não se consola comparando seus problemas com o sofrimento de Jó. Será que, se pudéssemos perguntar a Jó lá no céu, ele estaria resignado diante do sucesso positivo que seu livro causou? Deus não vê o tempo de vida humana que é como um vapor, vê a eternidade, no caso de jó, um testemunho de vida correta, independente das circunstâncias, deixado, como exemplo, para os homens. Para mim, isso justifica a ação de Deus. Para ele, o fim justifica os meios, por ser justo em todos os seus caminhos.
E, se isto é pouco, o próprio Jó mesmo sendo justo e temente a Deus, era um homem como todos, pecador. E o que diríamos do sacrifício do próprio Deus que se aniquilou, tomando a forma de servo, mas sem cometer qualquer pecado, sofreu 33 anos nesta terra tendo seu ápice nas 6 horas de sofrimento numa cruz, para salvar os homens da condenação a que estavam submetidos. Deus foi injusto consigo mesmo.
É isso que dá, humanizar Deus. Tenta limitá-lo à lógica humana, querer matematizar o infinito. Jung tentou mas esqueceu-se das lições eternas que o livro deixou para a humanidade, quanta gente não se consola comparando seus problemas com o sofrimento de Jó. Será que, se pudéssemos perguntar a Jó lá no céu, ele estaria resignado diante do sucesso positivo que seu livro causou? Deus não vê o tempo de vida humana que é como um vapor, vê a eternidade, no caso de jó, um testemunho de vida correta, independente das circunstâncias, deixado, como exemplo, para os homens. Para mim, isso justifica a ação de Deus. Para ele, o fim justifica os meios, por ser justo em todos os seus caminhos.
E, se isto é pouco, o próprio Jó mesmo sendo justo e temente a Deus, era um homem como todos, pecador. E o que diríamos do sacrifício do próprio Deus que se aniquilou, tomando a forma de servo, mas sem cometer qualquer pecado, sofreu 33 anos nesta terra tendo seu ápice nas 6 horas de sofrimento numa cruz, para salvar os homens da condenação a que estavam submetidos. Deus teria sido injusto consigo mesmo?
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