sábado, fevereiro 12, 2005

Mais sobre música e bar (A Turma do Funil)

Recebi hoje o comentário inaugural desse blog meio desorientado! O prezado leitor questionou o meu esquecimento da música "Garçon" de Reginaldo Rossi, no texto sobre Renato Teixeira. Eu tive até um frio na barriga, pois a coisa era caso justificado para fuzilamento no paredão do Forte das Cinco Pontas, no Recife, onde morriam os considerados traidores deste Pernambuco nosso! Sim, porque aqui temos muito orgulho das nossas coisas boas (embora façamos um vista grossa terrível pra os nossos defeitos!). Eu adoro a frase que diz que não nos pronunciamos pernambucanos, pelo mundo afora, para não constranger e humilhar os outros! Depois de ficar "matutando" um pouco na letra do Rei Reginaldo, cheguei à conclusão de que a música é boa pra caramba (umas das minhas favoritas ), embora mostre apenas um lado, dos muitos, dessa coisa de bar, ou seja, é música de "roedeira", "dor de cotovelo", "é gaia", e por aí vai. O cara foi rejeitado, levou um pé na bunda, e foi pro bar alugar o garçon e beber até "esborrar pelas oreia", perfeito! Há também duas ótimas linhas que ele diz: uma é "que no bar todo mundo é igual" (eu ia até acrescentar "alcoólatra", mas aí é sacanagem). Outra é "que pra matar a tristeza só mesa de bar". Melhor do que qualquer terapia ou comprimido, sem dúvida. Mas pra não correr mais riscos, dei uma olhada por aí na web, e pesquisei alguns caras que escreviam música pra cacete, e que bebiam "socialmente", que dizer, todos os dias, acompanhados de, pelo menos, mais um ser humano, ou seja, o dono do bar, o garçon, ou qualquer pinguço que viesse pedir uma bebida: Vinícius, Chico e Tom. A pesquisa foi rápida, que esse negócio de ser blogueiro toma um tempo miserável, mas no meio de coisas belas que achei, que falavam de bar, eu dei de cara com aquela preciosíssima "A Turma do Funil". Meus olhos até marejaram, juro, que poesia! Aquilo não é música pra se comentar num blog, mas escrever um livro! Aquela sim, era uma boa concorrente à de Teixeira, pois mostra um lado mais amplo, como também alegre e irresponsável da experiência de bar. Só um destaque para o verso que diz "Eis que da porta do fundo, do oco do mundo, desponta o cordão...". Achei demais esse anúncio, essa espectativa em torno dos heróis mitológicos que estão para entrar no recinto, como num Maracanã lotado e os fogos de artifício explodindo, e o time subindo as escadas dos vestiários, e pisando no gramado. Chegou a Turma do Funil! E eu que tenho essa gravada por Elizete Cardozo! Ainda vou dar uma olhada, por esses dias, ver se encontro umas gravações de músicas irlandêsas de bar, se tem alguma boa por lá. Eu vou até parar por aqui que minha língua tá ficando seca, colando no céu da boca, salute!

Turma do Funil

Composição: Antonio Carlos Jobim / Chico Buarque / Mirabeau/Oliveira/Castro

Quando é tão densa a fumaça
Que o tempo não passa
E a porta do bar já fechou
Quando ninguém mais tem dono
O garçom tá com sono
e a primeira edição circulou
Quando não há mais saudade, nem felicidade
Nem sede, nem nada, nem dor
Quando não tem mais cadeira
tomo uma besteira de pé no balcão
Eis que da porta do fundo
Do oco do mundo
Desponta o cordão

Chegou a turma do funil
Todo mundo bebe
Mas ninguém dorme no ponto
Ah, ah!
Mas ninguém dorme no ponto
Nós é que bebemos
e eles que ficam tontos, morou
Eu bebo sem compromisso
É o meu dinheiro
Ninguém tem nada com isso
Enquanto houver garrafa
Enquanto houver barril
Presente está a turma do funil

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