sexta-feira, fevereiro 18, 2005

O Sopão do Jung IV (Uma Resposta a Jó)

Nunca pensei que Jung fosse render tanto neste blog, mas vamos lá! Vamos dar uma olhada no livro mais polêmico dele, chamado Uma Resposta a Jó. O livrinho é tido como um dos mais accesíveis, embora o conteúdo tenha causado um rebuliço nos meios intelectuais e eclesiásticos. Diz Jung que ele levou dezenas de anos pra se decidir se escrevia o livro ou não, por tratar-se de uma questão cara a ele, como também tinha medo de ser mal interpretado. Ele alegou várias razões para finalmente editá-lo, entre elas, que muitos de seus pacientes sempre terem pedido que ele escrevesse algo sobre o assunto, como também depois de Aion, o livro que falava de Cristo, ele precisasse terminar o pacote e falar de Deus pai. Finalmente ele resolveu disparar a metralhadora, e vamos ver onde ele foi parar desta vêz!
  • Primeiro, ele diz acreditar que nada do que ele possa dizer, poderá atingir Deus mesmo, se ele existir.
  • Segundo, ele afirmou que o livro era sobre a ' imagem' que o mundo Ocidental (e Luterano por parte dele), tinha sobre Deus, e que ele não estava tentando fundar uma nova doutrina, ou religião.
  • Embora ele tenha feito essa declaração acima, no livro muita gente tem a impressão que ele está sendo maroto, ou sarcástico, e que tem muita coisa com sentido dúbio. O livro também é carregado de idéias gnósticas e orientais.
  • Como no livro anterior, Aion, Jung começa a dissertar sobre o que se passava na psique das pessoas na época em que o livro da bíblia, Jó, foi escrito. Esse livro é, provavelmente, o mais antigo dos livros bíblicos, escrito 500 ou 600 anos AC, antes mesmo de 'Gênesis' , como também as odisséias de Moisés, Davi e os profetas. Então o livro de Jó descrevia ainda um Deus com facetas Politeístas, ou vários deuses em um.
  • Seriam necessários uns 10 blogs deste pra poder explicar como Jung chegou às conclusões dele, mas segue abaixo os temas principais do livro, que podem soar incríveis pra quem não está acostumado com esse tipo de leitura, mas é o que tá escrito lá, e aperte os cintos!
  • Primeiro, o livro de Jó era sobre um homem pedindo a ajuda de Deus contra o próprio Deus! (tem alguém ainda aï?)
  • O livro questiona a visão de que, na imagem do Deus ocidental, hoje em dia, só cabe tudo de bom e positivo e justo, e nunca os opostos. Tudo o que for negativo terá que ser EXTERIOR a Deus, ou seja, "fraternalmente" dividido entre o diabo, nós homens, o acaso, ou algo "permitido" por Deus. Mas Jung diz que nem sempre foi assim, e que os cristãos primitivos tinham uma outra idéia de Deus.
  • O livro de Jung alega que Deus criou o mundo involuntarimente, inconscientemente (sem querer mesmo, tipo o nosso "foi mal aí"), talvez num sonho? Isso porque ainda soe (embora seja super natural dentro das igrejas cristãs) incrível que Deus criou o mundo com onisciência (segundo a Bíblia), sabendo que ao longo dos anos iria matar e mandar para o fogo eterno, literalmente, mais de 99,9% da criação humana, seja com água, fogo, ou guerras mundiais, daí ficar melhor acreditar que somos um "acidente", senão da natureza, de Deus.
  • Ele diz que, no livro de Jó, Lúcifer não tinha caído dos céus ainda, e que ele tinha livre acesso a Deus. Assim, em todas reúniões de cúpula, ía lá satã fazer "inferninho" (sem sacanagem) com o coitado do Jó. O diabo então provoca Deus a lançar desgraça sobre desgraça sobre Jó, como formar de "provar" a fidelidade do homem. Jó da parte dele não podia ser mais justo, fazendo o que um ser humano imperfeito podia pra agradar a Deus. Mas não teve jeito, e Jó começou a perder tudo que tinha, de colheitas a filhos, e riquezas, como também arranjar um monte de doença.
  • Após Jó passar no "teste", ele foi "premiado" pra receber tudo que tinha perdido, em dobro, embora os filhos mortos não retornassem das tumbas...
  • Segundo Jung, algo de errado acontece na administração central do céu, ou do roteirista do livro de Jó, onde o vilão (Satã) consegue sair de fininho (ninguém fala mais dele), e ficam na estória apenas um Deus que parece ter sido enganado a fazer sofrer um justo, e o próprio Jó. Daí surgirem as especulações de que, ou Deus reina pela mão do diabo também, ou houve um "arrumadinho", ou esquema pra protejer o filho torto dele.
  • Já partindo para o final do livro de Jó, Deus resolve ir falar pessoalmente com Jó. Pra surpresa de todos ele não vai lá pra consolá-lo, mas dá um tremenda lição de moral no cara, e ainda apareceu por lá com todo o aparato de um Deus poderoso, entre raios e trovões e voz retumbante, e de maneira intimidadora. Jó parece não estar surpreso, e fica quietinho sem tentar argumentar, pois sabia que a "chapa dele tava quente". Ele também sabia que aquele Deus era bem "esquentado", que qualquer vacilo e ele viraria pó num segundo. Então a quem recorrer quando você está sendo vítima de Deus, senão recorrer ao próprio Deus por ajuda? Foi o que Jó fez se humilhando, embora ele fosse o único certo nessa estória.
  • Mas a frente, no livro de Jung, ele vem com o desfecho que realmente causou furor. Ele explica que Deus percebeu que tinha sido injusto com Jó, e que precisava dar um resposta a ele. A resposta foi encarnar na figura de um homem, para que dessa forma o dano pudesse ser reparado, e "Deus, não o Homem, pudesse ser redimido!" Agora durma com um barulho desses!

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

O Sopão do Jung III (O Oriente e o Ocidente)

Os teólogos não poderiam pedir mais de um homem secular, das ciências. No mundo de Jung havia bastante espaço para o sagrado, e até para Deus, embora Jung fosse provavelmente ateu. Apesar de originariamente ser protestante, ele sempre fez muitas concessões à Igreja Católica. Ele considerava o mundo protestante bastante 'estéril', em termos de imaginação e simbologia, a começar das paredes das igrejas, desprovidas de qualquer imagem, mistério, de 'espanto' por um Deus que deveria ser terrível e incomensurável. Por outro lado, ele considerava os católicos como os verdadeiros herdeiros do cristianismo, e que tinham pelo menos Maria como uma verdadeira representante da Anima, a famosa representação feminina no inconsciente masculino; mais um arquétipo. Ele também geralmente aconselhava os pacientes a se manterem na religião dos pais deles, que não fizessem ruptura alguma, o que ele considerava mais saudável para a vida psiquíca, daí não ser espanto o fato dos livros dele serem editados no Brasil pela Vozes, uma editora católica.
  • Jung também chamou a atencão do Ocidente para as filosofias e religiões orientais. Ele via um paralelismo tremendo entre a psicologia dele e as técnicas de meditação de ioga, como também o Budismo. A busca pelo ' Nirvana' era, para ele, nada mais do que a busca pelo auto-conhecimento do sistema dele. Como não conseguia deixar de ser polêmico, também escreveu sobre o "Livro dos Mortos" dos bardos, onde o vivos aprendiam o que fazer logo após a morte. Jung considerava a 'estrela' do sistema dele, o Inconsciente, como um mar inteiro a ser conquistado, enquanto que a parte consciente do ser humano era apenas uma ilha no oceano. A atitude Oriental de introversão era muito interessante para ele, que achava-a mais adequada ao auto-conhecimento. Mas ele sempre fez questão de ressaltar que a prática de religões orientais pelo homem ocidental, ou meditação, tipo Ioga, eram, no mínimo desajeitadas, e não muito apropriadas. Ele achava que a bagagem ocidental era pesada demais pra se livrar assim facilmente, e que ningúem jamais se livraria dela sem artificialismos. Certamente ele foi testemunha do interesse e modismo, até hoje, pelo pensamento oriental, geralmente com uma abordagem rasa, sem a experiência e a visão do mundo de um oriental.
  • Os alquimistas medievais também entraram nos livros dele (tinha espaço pra todo mundo!). O caso dele com os velhinhos da idade média, é que eles não só tentavam transformar qualquer metal em ouro (o que ele considerava mais lenda do que tudo), como também eram parte de grupos gnósticos, de procura do conhecimento. Os caras também foram os primeiros químicos e predecessores dos cientistas modernos. Mas não era só a questão do alquimistas serem gnósticos (Gnose=Conhecimento), ou seja, aquela mistura do criolo doido entre filosofia, religiões 'pagãs', ou para-cristãs, e por aí vai. Jung também achava que o manusear dos metais, elementos, do fogo, fusão etc eram uma alegoria da busca pelo auto-conhecimento, da introspecção, da projeção do inconsciente, e sai da frente.
  • Havia também muito espaço para os considerados heréticos pelo cristianismo, e ele mergulhou fundo nos evangelhos gnósticos, como também no misticismo cristão da idade média. Tudo isso ele fez em busca de simbologias, arquétipos, comportamentos, e de entender como Deus era visto em diferentes épocas e culturas.
  • Toda essa bagagem e esse 'fuçar' em livros escritos em linguagens mortas, como pesquisar as muitas facetas psicológicas de diversos povos, culturas, levaram-no a escrever livros complexos, cheios de referências em Latim, gravuras antigas, muita Arte, e muita história da religião. Ele não tinha dificuldade, ou constrangimento algum em mexer em vespeiros, levantar pedras cheias de cobras embaixo, num eruditistmo impressionante.
  • Já no fim da carreira, escreveu dois livros bombásticos, onde ele mexia numa verdadeira casa de abelhas: o aspecto psicológico da imagem, ou arquétipo, de Cristo, no livro "Aion", onde ele tenta mostrar o porquê do sucesso do cristianismo, surgido no ápice da manifestação, no 'Inconsciente Coletivo' dos povos, do "deus que se torna homem", e vai ao 'Inferno' (Inconsciente) por três dias para resgatar a alma de todos. O livro foi um verdadeiro coquetel molotov nos meios eclesiásticos, e mal a Igreja tinha se recuperado, ele veio com o segundo livro, chamado " Uma Respota a Jó", onde ele, desta vez, põe na berlinda a imagem de Deus segundo o cristianismo!
  • Na próxima postagem, uma pincelada nesse segundo livro que causou tanta polêmica. Leia por sua conta e risco!

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

O Sopão do Jung II (sincronicidade)

O livro virou até título de disco de Sting: Syncronicity! Uau, que palavra bonita danada! Sobre o que será esse livro, ou melhor, o disco do Sting! O livro foi escrito na maturidade do grande Psiquiatra-Filósofo (outros diriam senilidade, mas a galera não 'aliveia' mesmo), nos anos 50. Para o inglês foi traduzido como “Syncronicity: an acausal connecting principle”, e pra ser explicado num blog, ou seja, feito caldo de cana, eu diria logo que ele tentou provar que existem “coincidências com significado”, ou dois fatos que acontecem ao mesmo tempo, onde um não foi causado pelo outro, embora tenham um significado só, um reforçando, ou afirmando o outro. Simples pra caramba! Agora vai explicar e desenvolver pra você ver o que é bom pra tosse! De saída também, vou logo dizendo o que os críticos dizem: que a mente humana, quando quer, encontra significado pra tudo, e tem a tendência de apenas lembrar as coincidências, e esquecer os muitos desencontros e falta de significado algum na vida. Pra esse negócio eles deram até nome de doença, e quem quiser que dê uma pesquisada: 'Apofenia', ui! Mas voltando pra Jung, o interesse dele pelo livro da sabedoria chinêsa, I-ching, tinha a ver com essa busca de significados na vida: o ser humano, as varetas jogadas na sorte, o cosmo, e o texto do oráculo,juntos, todos estavam em ‘sincronia’, e o resto era só achar o significado daquilo tudo, indicado no texto do livro.Claro que tudo isso dá margem pra um bocado de interpretação e distorção também, por que não. No mesmo livro sobre 'Sincronicidade', acontece a pesquisa dele com Astrologia, que falei na postagem anterior, e não é leitura pra os fracos de espírito! A pesquisa envolve algumas centenas de casais, com diversos tipos de signos, combinações, ascendentes etc, com várias tabelas ininteligíveis pra qualquer um com um cabelo de sanidade! Mas eu sempre volto pra Jung quando começo a ter sonhos e viver coincidências nessa vida a fora, mas no fim eu não consigo achar o significado disso tudo. Tempos atrás passei a noite sonhando com tubarões, e nem tinha um bicho pra fazer uma fezinha. Pela manhã fui a praia e, enquanto degustava umas geladinhas, comentei com os amigos sobre os sonhos. Não deu meia hora e apareceu um tubarão morto, boiando a poucos metros da praia!!! Danou-se! Corremos pra pegar o bicho, mas os salva-vidas que faziam a ronda na praia, chegaram primeiro de Jet-ski! Ficamos um bom tempo tentando decifrar o significado daquilo tudo, o que aumentou bastante o consumo de cervejas, pra alegria do barraqueiro! Agora me dê uma explicação pra essa relação ‘acausal’ entre meu sonho e o tubarão morto, que eu te pago uma cerveja da sua preferência! Mas a idéia tem um apelo forte, e sugere que esse mundo tem explicação, e que as coisas não estão tão soltas assim, sem sentido. Bom pra quem acredita... Bem cada um faça o melhor uso da sincronicidade. Eu pelo menos ainda gosto pra caramba daquela faixa do disco “Every breath you take, every move you make....Oh can’t you see you belong to me”!!!!. Na próxima vamos de religiões orientais e Alquimia!

O Sopão do Jung

O livro do cara passou uns 20 anos lá na prateleira da casa de meus pais. Chamava-se O Homem e Seus Símbolos. Era um livro com encadernação luxuosa, cheio de figurinhas e fotografias. Legal. Quando eu estava beirando os 30, em crise existencial, seja lá o que for isso, eu resolvi dar uma folheada naquele livrão, que até parecia trazer alguma explicação pra minha sonhadoria assombrada de todas as noites, e alucinações etílicas também. Rapaz, eu não sei se encontrei alguma resposta no livro, não, mas eu garanto que era muito mais divertido do que ler O Senhor dos Anéis! O cara tinha uma imaginação impressionante, e não escrevia pra fazer graça pra ningúem, garanto. Esse livro tinha sido escrito pra o público leigo, e foi o último que ele escreveu. O livro era uma introdução ao pensamenteo dele, bem mastigado. Acabei tomando gosto por esse tipo de leitura, e parti pra ler outros mais difíceis dele, dos quais eu entendia 10 páginas em cada 1.000, mas eu gostava, sei lá, eu acho que não sou muito normal mesmo... Às vêzes lia bêbado pra ver se ficava alguma coisa subliminarmente, hum...nunca funcionou ha ha ha (ou não)! Mas se eu escrevesse um “Guia para Idiotas”, escrito por outro, seria mais ou menos assim:
  • Carl Gustav Jung (um bom nome pra gatos) nasceu lá pela Suiça no fim do século XIX. Era de uma família de pastores luteranos, pai e avô. Dizia a lenda, que talvez ele mesmo propagasse, ser ele descendente do maior escritor alemão de todos os tempos, Goethe. Bem, o pai era pastor, mas a mãe fazia seánces nas barbas do velho, quando este partia em algum trabalho pastoral. Então o menino ia pra igreja nos domingos, vivenciando uma religião protestante e dura, enquanto durante a semana frequentava reuniões espíritas, que começavam a florecer na Europa e EUA. Ele confessou várias vêzes, nos livros dele, ter um medo terrível do Deus cristão, mas se sentia atraído pelas 'experiências' espiritualistas. Muitos psicólogos da época também se interessaram por essas ‘experiências’ paranormais ou 'do além', mas geralmente se decepcionavam quando isolavam os médiuns, ou pacientes, e descobriam que a turma gostava mesmo era de pregar uma peça na ingenuidade dos outros, ou tinham problemas patológicos mesmo. Jung sempre afirmou categoricamente que não acreditava que eram espíritos que falavam pela boca dos outros (e até ficava mal pra um cientista entrar numa dessas), mas certamente a curiosidade foi atiçada por esse universo de transes, vozes, e comportamentos além da explicação. Também aprendeu Latim aos 8 anos de idade, o que o ajudou bastante nas pesquisas em livros antigos sobre religião, gnose, alquimia e filosofia.
  • Os grandes temas, que ele desenvolveu ao longo de seu muitos livros, foram os ‘Arquétipos da Humanidade’, o ‘Inconsciente Coletivo’, o papel do Inconsciente e sua influência sobre o Consciente (umas das primeiras fissuras com a amizade de Freud), e a busca árdua em conhecer esse ‘Inconsciente', o que no final levaria a pessoa ao processo de ‘Individuação’. O ser humano seria um ‘Indivíduo’ (completo e em equilíbrio), quando mergulhasse e entendesse esse misterioso ‘Inconsciente’, que era tão ativo e ‘inteligente’ quanto o mais famoso ‘Consciente’. Aquele ‘Inconsciente’ também se comunicava com o ‘Consciente’ através de mensagens criptografadas, principalmente através dos sonhos e dos símbolos. Se não foi ele quem criou essas idéias, certamente elas ficaram marcadas como algo “jungiano”. Nunca ficou bem claro pra mim ( e acho que pra um bocado de gente), o que ele queria dizer com arquétipos. Se eram representações mentais, imagens, de dados biológicos inerentes a todo ser humano (DNA mesmo), ou um herança espiritual da humanidade (abrindo margem pra o misticismo e obscurantismo de que era tão criticado). No sopão do Jung então, de repente, um monte de gente sentiu que dava pra usar as teorias dele pra alguma coisa, principalmente os religiosos e teólogos, já que entre os arquétipos havia uma boa chance de se encaixar Deus no esquema, como uma idéia inerente à maioria da humanidade, assim como imortalidade, entre outras.
  • Mas desde o começo ele também ficou famoso por desenvolver uma prática de consultório, onde o paciente era estimulado por uma palavra, e tinha que responder com a primeira que viesse à mente. Com isso, segundo ele, o médico poderia descobrir, ou ter uma idéia do 'complexo', ou 'constelação arquetípica' (vai que é mole) do paciente. Quem nunca chamou alguém de ‘complexado’ que atire a primeira pedra! Você já era jungiano e não sabia!
  • Também ficaram famosos nos livros dele os 'Tipos Psicológicos', hoje tão propagados por qualquer Lair Ribeiro da vida: o Introvertido e o Extrovertido, cada um com uma maneira peculiar de enxergar a vida. Essa talvez seja a contribuição mais permanente dele hoje em dia, difícil de derrubar.
  • Nos primeiros anos do século XX, inicia-se aquela que seria uma verdadeira amizade de Titãns, entre ele e Freud. Por incrível que pareça, Jung era mais conhecido nos meios médicos da Europa do que o fundador da psicanálise, que ainda era considerado obscuro, e conhecido apenas nos círculos de Viena. Eles tinham um verdadeira admiração um pelo outro, e trocaram centenas de cartas e idéias. Freud o admirava como filho (ou paixão mesmo?) e tinha em Jung o cara com a capacidade intelectual para levar o bastão a frente.
  • Lá pelas tantas, Jung achou que o velho Freud tava numa de dogmatizar (palavras de Jung), tentando amarrar alguns pontos sem nó da teoria freudiana, principalmente os da sexualidade, traumas infantis, édipo etc, com 'verdades inquestionáveis', inaceitáveis para um cientista (do tipo "é assim porque tem que ser assim"), tudo em nome de uma estabilidade maior no sistema de pensamento dele.
  • Freud, por outro lado, acusou Jung (com certa razão) de seguir por um caminho não científico e místico, e que estava 'viajando na maionese'. De tanto ler Jung, eu só conheço a versão dele, que dizia que o ser o humano era complexo e rico demais, que a vida era grande demais, pra você ter medo de arriscar, e até mergulhar no vácuo, ser fosse preciso, se houvesse a mínima chance de acertar. Ok. Isso não quer dizer que no final, como o acusam, ele não tenha criado uma estória mais rica que a de Harry Potter! O ser humano é capaz!
  • Assim, já no fim da vida, o velho Jung atirou pra todos os lados, sem medo de perder a reputação de cientista, ou coisa que o valha, tipo tentar provar que a astrologia tinha fundamento (o que ele chegou a conclusão que não), depois de uma porrada de experimentos com centenas de pessoas, com mapas astrais meticulosamente traçados por especialistas etc. No fim, numa parte maçante do livro, ele chega a conclusão que não chegou a conclusão alguma, mas o velho tentou pra cacete, sem medo de ser feliz. Também tentou a mesma coisa com o I-ching, e chegou a conclusão que o negócio funcionava pra ele, embora tivesse um bocado de gente que não concordasse, mas ela não tava nem aí. Nas próximas postagens Robelix vai dar uma olhada nos temas mais populares dele (viraram cultura POP mesmo), ou seja, a ‘Sincronicidade’, Alquimia, e a aproximação com as religiões e filosofias orientais. Vai na bola!

sábado, fevereiro 12, 2005

Mais sobre música e bar (A Turma do Funil)

Recebi hoje o comentário inaugural desse blog meio desorientado! O prezado leitor questionou o meu esquecimento da música "Garçon" de Reginaldo Rossi, no texto sobre Renato Teixeira. Eu tive até um frio na barriga, pois a coisa era caso justificado para fuzilamento no paredão do Forte das Cinco Pontas, no Recife, onde morriam os considerados traidores deste Pernambuco nosso! Sim, porque aqui temos muito orgulho das nossas coisas boas (embora façamos um vista grossa terrível pra os nossos defeitos!). Eu adoro a frase que diz que não nos pronunciamos pernambucanos, pelo mundo afora, para não constranger e humilhar os outros! Depois de ficar "matutando" um pouco na letra do Rei Reginaldo, cheguei à conclusão de que a música é boa pra caramba (umas das minhas favoritas ), embora mostre apenas um lado, dos muitos, dessa coisa de bar, ou seja, é música de "roedeira", "dor de cotovelo", "é gaia", e por aí vai. O cara foi rejeitado, levou um pé na bunda, e foi pro bar alugar o garçon e beber até "esborrar pelas oreia", perfeito! Há também duas ótimas linhas que ele diz: uma é "que no bar todo mundo é igual" (eu ia até acrescentar "alcoólatra", mas aí é sacanagem). Outra é "que pra matar a tristeza só mesa de bar". Melhor do que qualquer terapia ou comprimido, sem dúvida. Mas pra não correr mais riscos, dei uma olhada por aí na web, e pesquisei alguns caras que escreviam música pra cacete, e que bebiam "socialmente", que dizer, todos os dias, acompanhados de, pelo menos, mais um ser humano, ou seja, o dono do bar, o garçon, ou qualquer pinguço que viesse pedir uma bebida: Vinícius, Chico e Tom. A pesquisa foi rápida, que esse negócio de ser blogueiro toma um tempo miserável, mas no meio de coisas belas que achei, que falavam de bar, eu dei de cara com aquela preciosíssima "A Turma do Funil". Meus olhos até marejaram, juro, que poesia! Aquilo não é música pra se comentar num blog, mas escrever um livro! Aquela sim, era uma boa concorrente à de Teixeira, pois mostra um lado mais amplo, como também alegre e irresponsável da experiência de bar. Só um destaque para o verso que diz "Eis que da porta do fundo, do oco do mundo, desponta o cordão...". Achei demais esse anúncio, essa espectativa em torno dos heróis mitológicos que estão para entrar no recinto, como num Maracanã lotado e os fogos de artifício explodindo, e o time subindo as escadas dos vestiários, e pisando no gramado. Chegou a Turma do Funil! E eu que tenho essa gravada por Elizete Cardozo! Ainda vou dar uma olhada, por esses dias, ver se encontro umas gravações de músicas irlandêsas de bar, se tem alguma boa por lá. Eu vou até parar por aqui que minha língua tá ficando seca, colando no céu da boca, salute!

Turma do Funil

Composição: Antonio Carlos Jobim / Chico Buarque / Mirabeau/Oliveira/Castro

Quando é tão densa a fumaça
Que o tempo não passa
E a porta do bar já fechou
Quando ninguém mais tem dono
O garçom tá com sono
e a primeira edição circulou
Quando não há mais saudade, nem felicidade
Nem sede, nem nada, nem dor
Quando não tem mais cadeira
tomo uma besteira de pé no balcão
Eis que da porta do fundo
Do oco do mundo
Desponta o cordão

Chegou a turma do funil
Todo mundo bebe
Mas ninguém dorme no ponto
Ah, ah!
Mas ninguém dorme no ponto
Nós é que bebemos
e eles que ficam tontos, morou
Eu bebo sem compromisso
É o meu dinheiro
Ninguém tem nada com isso
Enquanto houver garrafa
Enquanto houver barril
Presente está a turma do funil

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Hino da mesa de bar


Renato Teixeira

Em "SENTIMENTAL EU FICO", Renato Teixeira escreveu o hino definitivo da mesa de bar. Pra completar, a música foi gravada por Elis Regina no disco "Elis", ainda com a participação do marido César Camargo Mariano nos arranjos e piano. No mesmo disco, outra música de Teixeira, "Romaria", foi gravada, e se tornou num sucesso nacional. "Romaria" foi tão tocada nas rádios que acabou por ofuscar as outras músicas do disco. Eu diria até que esse verdadeiro "credo apostólico boêmio", que é a música "Sentimental", acabou caindo na obscuridade, mas é uma música que ainda surpreende pela sabedoria boêmia, cantada com um pouco de ironia fina, mas de saudosismo também pelos "grandes projetos tolos e combinados que perecem com a luz da manhã", ou " quando sento na mesa de bar eu sou um lobo cansado e carente de cerveja e de velhos amigos". Toda vez que ouço esse verso "carente de cerveja", me dá uma secura imediata na garganta, e beber alguma coisa se faz necessário! Destaque também para essa parte do 'credo' dos 'Alcóolatras Com Um Pingo De Juízo', onde diz que mesa de bar é pra se encontrar a 'manguaça' e, TAMBÉM, os AMIGOS. É lugar de diversão e de loucura, mas também solo sagrado, ou melhor, 'toalha de mesa sagrada' , de grandes papos, e de construir grandes amizades, como diria o Poetinha (com maíuscula mesmo) Vinícius: nunca fiz um amigo numa leiteria! A música é genial em todas as linhas e tiradas, e ficaria difícil, e longo, discutir uma por uma, mas certamente Renato Teixeira tinha conhecimento de causa quando a escreveu, ou então ele é mais gênio do que eu pensava! Um último destaque, que remete para a discussão postada abaixo "Mr Zimmerman II", onde Teixeira falou quase a mesma coisa que Bob no meu sonho: (você tem que ter) "um olho em Deus, o outro com Satã". Será que ele andou tendo os mesmos sonhos, eu hein? Ele sempre vai ser conhecido por "Romaria", "Amanheceu, peguei a viola", e outras, mas pra o blog do Robelix, "Sentimental Eu Fico" vai ser sempre sua obra-prima!

Sentimental Eu Fico - Renato Teixeira

Sentimental eu fico
Quando pouso na mesa de um bar
Eu sou um lobo cansado carente
De cerveja e velhos amigos

Na costura da minha vida mais um ponto
No arremate do sorriso mais um nó
Aqui pra nós cantar não tá pra peixe
Tem coisa transformando a água em pó

E apesar de estar no bar caçando amores
Eu nego tudo e invento explicações
Amigo velho amar não me compete
Eu quero é destilar as emoções

Sentimental eu fico . . .

E os projetos todos tolos combinados
Perecerão nas margens da manhã
Uma tontura solta na cabeça
Um olho em Deus e outro com satã

E quando o sol raiar desentendido
Eu vou ferir a vista no amanhã
E olharei para quem vai pro trabalho
Com os olhos feito os olhos de uma rã.

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Morre Luizão Maia


Mestre Brasileiro

Morreu nesse fim de semana, em Tóquio, um dos maiores baixistas brasileiros de todos os tempos. Já se passaram dois dias e, até então, nem uma notinha na imprensa brasileira, embora eu já tenha visto no Uol que o gringo do baterista Capaldi faleceu no mesmo dia! Triste sina essa de ser brasileiro e instrumentista ao mesmo tempo, que ironia! Quanto melhor você for, menos lembrado serás, e se inventas de tocar um tal de contrabaixo, que as pessoas geralmente perguntam "o que é que aquele outro guitarrista está fazendo no palco, que eu não ouço nada", aí é que a coisa complica. Fico imaginando, quando uma dessas cantoras baianas morrerem, se vamos ter luto oficial e bandeira a MEIO PAU BROCHADO! Luizão começou a tocar nos meados dos 60 e foi o precursor e mestre maior do samba no baixo elétrico. Tocava de maneira percussiva, como se fosse um bumbo, uma verdadeira patada nos coitados dos instrumentos que ele tocava. Em pouco tempo, se tornou o número um dos estúdios brasileiros, e veio a tocar, praticamente, em todos os discos clássicos da música brasileira até os anos 90, a começar pelos de Elis Regina, com quem passou 13 anos trabalhando, especialmente "Tom e Elis". Foram mais de 1.000 participações em gravações, e muito mais em shows e excursões ao exterior. Ele também era tio de Artur Maia, outro bamba do baixo (Djavan, Gil e Bosco, entre outros) que é quem está em Tóquio tentando fazer o translado do corpo para o Brasil. Saudade Luizão! Abaixo, uma "listinha" do pessoal com quem ele gravou ou tocou:
Tom Jobim, Elizeth Cardoso, Cartola, Elis Regina, Clara Nunes, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Nara Leão, Nélson Cavaquinho, Roberto Ribeiro, João Nogueira, Beth Carvalho, Alcione, Maria Creuza, Emílio Santiago, Simone, Gal Costa, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Quarteto em Cy, Luiz Bonfá, João Bosco, Djavan, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Marcos Valle, Chico Buarque, Toquinho, Oscar Castro Neves, Rosa Passos, Lee Ritenour, Toots Thielemans, George Benson, Wayne Shorter, Lisa Ono , entre outros, num total superior a mil gravações realizadas.

Claudinha Telles (Final)

Essa semana mandei pra Claudinha Telles o restante das fotos que minha mãe tinha no álbum velho. Eram fotos que Menescal não aparecia, pois era ele quem estava fotografando. A resposta dela me deu um frio na barriga, porque ela não só agradeceu e colocou as fotos no blog oficial dela, como publicou também o e-mail que eu escrevi , na íntegra, e o e-mail não era o que se poderia chamar de um telegrama, que eu tava com vontade de escrever, e eu até achei que ia encher o saco, mas... O frio na barriga foi porque eu nunca tinha escrito pra tanta gente, sem saber, mas foi legal ler os comentários que já começaram a aparecer. Uma experiência interessante. O blog dela é http://claudiatelles.festim.net/archives/2005_01.html , e vale a pena dar um conferida. Lá tem notícia de gente que tava sumida por uns tempos, como Sá, Rodrix e Guarabira, que voltaram a fazer shows no Rio, muito bom!