
Praia do Pina e seu antigo Cano
"Subversão ininterrupta da produção, contínua perturbação de todas as relações sociais, interminável incerteza e agitação distinguem a era burguesa de todas as anteriores. Todas as relações sociais fixas, enrijecidas, com seu travo de antiguidade, veneráveis preconceitos e opiniões, foram banidas; todas as novas relações envelhecem antes mesmo de se ossificar. Tudo que é sólido desmancha no ar; tudo que é sagrado é profanado; e os homens finalmente são levados a enfrentar com um olhar sem ilusões as verdadeiras condições de suas vidas." (Karl Marx)
Entrei com cuidado, para não tropeçar nas caixas. No canto da sala estavam os velhos bolachões de vinil, juntos aos retratos de santos e antepassados, embrulhados em papel de padaria. Fui para a garagem, onde ainda estava a cadeira de balanço. Fiquei assistindo aos trabalhadores passarem com os móveis, mudo, sem pensar em coisa alguma. Na parede, pintados a lápis-de-cêra, desenhos de minhas sobrinhas, todos com temas de boas vindas para mim, quando retornei de uma ausência de quatro anos. Fiquei rindo de um que mostrava uma placa de proibição, um círculo com uma faixa vermelha atravessada, e no centro da placa, uma mala de viagem. Procurei por um apoio para me balançar, e apoiei a mão na grade de madeira que dava para o quintal. Nas grades, as marcas dos dentes de meu cão, Bandit, feitas trinta anos atrás.
Finalmente alguma coisa começou a se mover dentro da minha cabeça, e a realidade começou a pedir passagem, e me acordar de meu sonho. Tínhamos passado 34 anos ali, e eu sabia que agora era pra valer: tinhamos que deixar o lugar, para que fosse demolido, e desse lugar a mais um arranha-céus de luxo, ou um estacionamento. Os últimos anos eu tinha passado fora do país, e na verdade achava que jamais veria a casa novamente, ou o velho jambeiro na frente. Mas no fim eu tive a chance de chegar a tempo, para despachar o corpo.
Meu pai aproximou-se, com as mãos nos bolsos, e deu uma olhada ao redor. Disse que estava indo ao bar em outra rua, esperar que o caminhão da mudança passasse por lá. Fiquei olhando o velho partir e começei a perambular pela casa. Parei na janela do meu quarto, que estava fechada. Abri lentamente a janelinha que permite visualizar o lado de fora e libera a passagem de ar. Pra meu espanto, no portão estava eu, com mais ou menos uns 10 anos de idade, vindo buscar uma bola de futebol que alguém tinha chutado. Minha respiração ficou suspensa. O que me chocava não era só minha junventude, mas a rua. Ela ainda estava sem calçamento, e meus pés estavam todos sujos. A gritaria dos meninos era também insurportável, e nossa vizinha da frente estava no portão da bela casa dela, ameaçando-nos de rasgar a bola na próxima vez que a bola caísse lá. Mas nós não ligávamos, pois sempre conseguíamos pular o muro e chegar na frente dela. Era incrível como havia crianças brincando naquela rua. Dezenas! Verdadeiras matilhas barulhentas, e sujas da areia da rua. Mas parecíamos tão felizes! Fechei a janela e todo ruído parou. Bem, agora só ouvia o zumbido dos carros, que passavam em alta velocidade para uma rua tão pequena. A rua agora é calçada com pedras e não é possível avistar uma criança num raio de 1km.
Me dirigi ao outro quarto, que tinha a janela aberta para o quintal. Dali costumávamos ouvir o motor dos barcos a diesel dos pescadores, quando entravam ou saiam da baía, como também a gritaria dos garçons que jogavam bola na praia às 4 da manhã. Agora toda a visão que eu tinha era do imponente prédio de luxo plantado bem no nosso quintal. Parecia um pesadelo, ou um conto de ficção científica. De onde teria saído aquele monstro tão alto e forte, bem nos fundos da nossa casa? Parecia que eu agora começava a ouvir um murmúrio, confundido com os martelar incessante dos trabalhadores, algo assim como "o futuro chegou e o passado tem que dar vez e passagem modernizar crescer desmatar construir desapropriar pavimentar aplainar levantar altares a esse deus que se chama modernidade progresso futuro que logo deixam de ser e destruiremos e criaremos o novo de novo novamente novidade novinho em folha". Afinal Belchior já não cantava que o novo sempre vem? E aí eu pergunto se ainda é pecado amar o passado. É? "É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem".
O passado agora parecia o porto mais seguro. O ser humano perde toda estabilidade quando ele não tem história, referencial, registros, monumentos, ruas...casas. E eu, que como Fausto, parecia ter vendido a alma em troca de progresso, do novo, de aventura, agora parecia pagar por isso, sendo arrancado do que era velho, mas sólido, rotineiro, mas estável. Estava agora como o doido americano, Withman, que também era encantado com a aventura humana, mas que também caía na real, de vez em quando. Sim, o rotineiro também é necessário e saudável, e há vida nele, se você souber perceber os prazeres das pequenas coisas.
"Wil you seek afar off?
You surely come back at last
In things best known to you finding the best or as good as the best" (Whitman)
(grosseiramente traduzido)
"Você vai continuar buscando na distância?
Você enfim certamente retorna, nas coisas que você melhor conhece, encontrando o melhor ou tão bom quanto o melhor"
Impressionante foi a coincidência de tudo isso que estávamos passando, com o ensaio de Marshall Berman "Tudo que é sólido desmancha no ar" que foi inspirado no texto de Marx citado acima. Nele Berman fala de Modernidade e de como o homem se relaciona com esse verdadeiro deus de nossos dias. Ele foi testemunha da destruição do Bronx nos anos 50, para a construção de novas estradas, onde o bairro foi cortado ao meio, com muitas desapropriações e destruição. O bairro se tornou naquilo que conhecemos pelos filmes, mas que antes era um locar de prosperidade, e de vida cultural forte. Na primeira parte do livro ele usa como alegoria o livro de Goethe, Fausto II, que vendeu a alma a Mephisto (o diabo mesmo) em troca de conhecimento e progresso. Nesse livro, Fausto aparece já como administrador da cidade, que agora está obcecada com o progresso. Berman comenta que nessa parte Fausto comete seu primeiro ato de maldade realmente consciente. Após um frenesi de construção por toda parte, ele começa a cobiçar as terras de um casal de velhos, onde ele pretende construir uma torre de observação para ele e os seus, tão alto talvez quanto o prédio de luxo no nosso quintal. Abaixo, várias citações do livro de Berman (em itálico) e de Fausto:
Levantem-se da cama, meus servos! Todos os homens!
Deixem olhos felizes contemplar meu plano audacioso.
Apanhem suas ferramentas, agitem suas pás e cavadeiras!
O que foi planejado tem que ser imediatamente cumprido.(Fausto)
Eles iriam esbravejar em vão todos os dias,
Cavar e esburacar, pazada por pazada;
Onde as tochas enxameam à noite,
Havia uma represa quando acordávamos.
Sacrifícios humanos sangravam,
Gritos de horror iriam fender a noite,
E onde as chamas se estreitam na direção do mar
Um canal iria saudar a luz. (Fausto)
Fausto se torna obcecado com o velho casal e sua pequena porção de terra:
Esse casal de velhos devia ter-se afastado,
Eu quero Tílias sob meu controle.
Pois essas poucas árvores que me são negadas
Comprometem minha propriedade como um todo
...Por isso nossa alma se debruça sobre a cerca,
Para sentir em meio à plenitude, o que nos falta(Fausto)
Eles precisam ser afastados para dar lugar àquilo que Fausto passa a ver como a culminação do seu trabalho: uma torre de observação, do alto da qual ele e os seus possam "contemplar a distância até o infinito". Ele ofereçe a Filemo e Báucia uma importância em dinheiro ou sua transferência para outra propriedade. Mas na sua idade, que fariam eles com o dinheiro? E depois de viver a vida aí, como poderiam começar nova vida em outra parte? Eles se recusam a mudar.
Resistência e teimosia assim
Frustram o êxito mais glorioso
Até o ponto em que, lamentavelmente, o homem começa a se cansar de ser justo. (Fausto)
Bem, no livro de Goethe os velhos têm a casa queimada e são assassinados. No nosso caso meus pais aceitaram uma modesta idenização e foram despachados às pressas da beira da praia para os subúrbios, bem longe de qualquer cheiro de mar. Embora moremos numa cidade do litoral, morar perto da água é para quem pode pagar R$300.000 por um apartamento, e assim partiram uns dos últimos remanescentes da rua, com seus móveis velhos, para dar passagem ao novo...e aos ricos.
Após peregrinar pelos aposentos da casa, entreguei as chaves de meu carro à minha espôsa, que as recebeu em protesto. Não liguei para o que ela falava e me dirigi também ao boteco na outra rua. Deixei a casa sem olhar para trás, pra não virar estátua de sal da praia do Pina (o que seria melhor idéia...). Juntei-me a meu pai e aos bêbados de plantão, que contavam estórias e piadas, ou se gabavam de um passado mais glorioso. Eu e o velho não falamos mais sobre a casa, ou sobre a vida. Apenas bebemos a vodka dele, e eu minha cachaça com cerveja. Enfim o caminhão e os carros passaram para nos pegar, e assim partimos em direção ao futuro sempre incerto.
Entrei com cuidado, para não tropeçar nas caixas. No canto da sala estavam os velhos bolachões de vinil, juntos aos retratos de santos e antepassados, embrulhados em papel de padaria. Fui para a garagem, onde ainda estava a cadeira de balanço. Fiquei assistindo aos trabalhadores passarem com os móveis, mudo, sem pensar em coisa alguma. Na parede, pintados a lápis-de-cêra, desenhos de minhas sobrinhas, todos com temas de boas vindas para mim, quando retornei de uma ausência de quatro anos. Fiquei rindo de um que mostrava uma placa de proibição, um círculo com uma faixa vermelha atravessada, e no centro da placa, uma mala de viagem. Procurei por um apoio para me balançar, e apoiei a mão na grade de madeira que dava para o quintal. Nas grades, as marcas dos dentes de meu cão, Bandit, feitas trinta anos atrás.
Finalmente alguma coisa começou a se mover dentro da minha cabeça, e a realidade começou a pedir passagem, e me acordar de meu sonho. Tínhamos passado 34 anos ali, e eu sabia que agora era pra valer: tinhamos que deixar o lugar, para que fosse demolido, e desse lugar a mais um arranha-céus de luxo, ou um estacionamento. Os últimos anos eu tinha passado fora do país, e na verdade achava que jamais veria a casa novamente, ou o velho jambeiro na frente. Mas no fim eu tive a chance de chegar a tempo, para despachar o corpo.
Meu pai aproximou-se, com as mãos nos bolsos, e deu uma olhada ao redor. Disse que estava indo ao bar em outra rua, esperar que o caminhão da mudança passasse por lá. Fiquei olhando o velho partir e começei a perambular pela casa. Parei na janela do meu quarto, que estava fechada. Abri lentamente a janelinha que permite visualizar o lado de fora e libera a passagem de ar. Pra meu espanto, no portão estava eu, com mais ou menos uns 10 anos de idade, vindo buscar uma bola de futebol que alguém tinha chutado. Minha respiração ficou suspensa. O que me chocava não era só minha junventude, mas a rua. Ela ainda estava sem calçamento, e meus pés estavam todos sujos. A gritaria dos meninos era também insurportável, e nossa vizinha da frente estava no portão da bela casa dela, ameaçando-nos de rasgar a bola na próxima vez que a bola caísse lá. Mas nós não ligávamos, pois sempre conseguíamos pular o muro e chegar na frente dela. Era incrível como havia crianças brincando naquela rua. Dezenas! Verdadeiras matilhas barulhentas, e sujas da areia da rua. Mas parecíamos tão felizes! Fechei a janela e todo ruído parou. Bem, agora só ouvia o zumbido dos carros, que passavam em alta velocidade para uma rua tão pequena. A rua agora é calçada com pedras e não é possível avistar uma criança num raio de 1km.
Me dirigi ao outro quarto, que tinha a janela aberta para o quintal. Dali costumávamos ouvir o motor dos barcos a diesel dos pescadores, quando entravam ou saiam da baía, como também a gritaria dos garçons que jogavam bola na praia às 4 da manhã. Agora toda a visão que eu tinha era do imponente prédio de luxo plantado bem no nosso quintal. Parecia um pesadelo, ou um conto de ficção científica. De onde teria saído aquele monstro tão alto e forte, bem nos fundos da nossa casa? Parecia que eu agora começava a ouvir um murmúrio, confundido com os martelar incessante dos trabalhadores, algo assim como "o futuro chegou e o passado tem que dar vez e passagem modernizar crescer desmatar construir desapropriar pavimentar aplainar levantar altares a esse deus que se chama modernidade progresso futuro que logo deixam de ser e destruiremos e criaremos o novo de novo novamente novidade novinho em folha". Afinal Belchior já não cantava que o novo sempre vem? E aí eu pergunto se ainda é pecado amar o passado. É? "É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem".
O passado agora parecia o porto mais seguro. O ser humano perde toda estabilidade quando ele não tem história, referencial, registros, monumentos, ruas...casas. E eu, que como Fausto, parecia ter vendido a alma em troca de progresso, do novo, de aventura, agora parecia pagar por isso, sendo arrancado do que era velho, mas sólido, rotineiro, mas estável. Estava agora como o doido americano, Withman, que também era encantado com a aventura humana, mas que também caía na real, de vez em quando. Sim, o rotineiro também é necessário e saudável, e há vida nele, se você souber perceber os prazeres das pequenas coisas.
"Wil you seek afar off?
You surely come back at last
In things best known to you finding the best or as good as the best" (Whitman)
(grosseiramente traduzido)
"Você vai continuar buscando na distância?
Você enfim certamente retorna, nas coisas que você melhor conhece, encontrando o melhor ou tão bom quanto o melhor"
Impressionante foi a coincidência de tudo isso que estávamos passando, com o ensaio de Marshall Berman "Tudo que é sólido desmancha no ar" que foi inspirado no texto de Marx citado acima. Nele Berman fala de Modernidade e de como o homem se relaciona com esse verdadeiro deus de nossos dias. Ele foi testemunha da destruição do Bronx nos anos 50, para a construção de novas estradas, onde o bairro foi cortado ao meio, com muitas desapropriações e destruição. O bairro se tornou naquilo que conhecemos pelos filmes, mas que antes era um locar de prosperidade, e de vida cultural forte. Na primeira parte do livro ele usa como alegoria o livro de Goethe, Fausto II, que vendeu a alma a Mephisto (o diabo mesmo) em troca de conhecimento e progresso. Nesse livro, Fausto aparece já como administrador da cidade, que agora está obcecada com o progresso. Berman comenta que nessa parte Fausto comete seu primeiro ato de maldade realmente consciente. Após um frenesi de construção por toda parte, ele começa a cobiçar as terras de um casal de velhos, onde ele pretende construir uma torre de observação para ele e os seus, tão alto talvez quanto o prédio de luxo no nosso quintal. Abaixo, várias citações do livro de Berman (em itálico) e de Fausto:
Levantem-se da cama, meus servos! Todos os homens!
Deixem olhos felizes contemplar meu plano audacioso.
Apanhem suas ferramentas, agitem suas pás e cavadeiras!
O que foi planejado tem que ser imediatamente cumprido.(Fausto)
Eles iriam esbravejar em vão todos os dias,
Cavar e esburacar, pazada por pazada;
Onde as tochas enxameam à noite,
Havia uma represa quando acordávamos.
Sacrifícios humanos sangravam,
Gritos de horror iriam fender a noite,
E onde as chamas se estreitam na direção do mar
Um canal iria saudar a luz. (Fausto)
Fausto se torna obcecado com o velho casal e sua pequena porção de terra:
Esse casal de velhos devia ter-se afastado,
Eu quero Tílias sob meu controle.
Pois essas poucas árvores que me são negadas
Comprometem minha propriedade como um todo
...Por isso nossa alma se debruça sobre a cerca,
Para sentir em meio à plenitude, o que nos falta(Fausto)
Eles precisam ser afastados para dar lugar àquilo que Fausto passa a ver como a culminação do seu trabalho: uma torre de observação, do alto da qual ele e os seus possam "contemplar a distância até o infinito". Ele ofereçe a Filemo e Báucia uma importância em dinheiro ou sua transferência para outra propriedade. Mas na sua idade, que fariam eles com o dinheiro? E depois de viver a vida aí, como poderiam começar nova vida em outra parte? Eles se recusam a mudar.
Resistência e teimosia assim
Frustram o êxito mais glorioso
Até o ponto em que, lamentavelmente, o homem começa a se cansar de ser justo. (Fausto)
Bem, no livro de Goethe os velhos têm a casa queimada e são assassinados. No nosso caso meus pais aceitaram uma modesta idenização e foram despachados às pressas da beira da praia para os subúrbios, bem longe de qualquer cheiro de mar. Embora moremos numa cidade do litoral, morar perto da água é para quem pode pagar R$300.000 por um apartamento, e assim partiram uns dos últimos remanescentes da rua, com seus móveis velhos, para dar passagem ao novo...e aos ricos.
Após peregrinar pelos aposentos da casa, entreguei as chaves de meu carro à minha espôsa, que as recebeu em protesto. Não liguei para o que ela falava e me dirigi também ao boteco na outra rua. Deixei a casa sem olhar para trás, pra não virar estátua de sal da praia do Pina (o que seria melhor idéia...). Juntei-me a meu pai e aos bêbados de plantão, que contavam estórias e piadas, ou se gabavam de um passado mais glorioso. Eu e o velho não falamos mais sobre a casa, ou sobre a vida. Apenas bebemos a vodka dele, e eu minha cachaça com cerveja. Enfim o caminhão e os carros passaram para nos pegar, e assim partimos em direção ao futuro sempre incerto.
Cheguei em casa tarde e cansado. No porta-malas do carro estavam meus livros que ainda estavam na casa dos meus pais. Abri a porta para apanhá-los mas não tinha mais coragem de arrumar, ou carregar coisa alguma. No canto, um embrulho retangular e pesado, em papel de jornal. Apalpei com carinho, e abri lentamente. Dentro, um mosaico vermelho, com temas rebuscasdos em branco, arrancado da sala de jantar.
3 comentários:
Nao sabia que teus pais iam se mudar...
Outro dia eu até estava comentando com a minha mae, sobre a resistencia
dos teus velhos lá na Capitao Rebelinho, em razao de grande parte do casario
naquele trecho onde moravas já ter sido desocupado/demolido.
Lembra da casinha onde meus pais moravam antes da atual? O terreno
enorme onde ficavam as duas casas (a outra era a do meu avo) há alguns anos
já é ocupado por uma dessas construcoes tipicas de classe media alta.
O Pina passa por uma mudanca impensável naqueles tempos em que a molecada
jogava bola e andava de bicicleta naquelas ruas de areia.
Aquilo alí ainda vai mudar muito, cara. Acho que a única coisa que vai ficar
pra testemunhar esse o passado é o Teatro Barreto Junior, antigo Cine Atlantico,
da epoca em que eu morava na Jeremias Bastos e onde fui ao cinema pela primeira
vez na vida. Espero que, pelo menos em nome da cultura, nao o derrubem pra fazer
um centro empresarial.
O "nosso Pina" acabou. Mas, como ainda nao inventaram a "desapropriação memorial",
me consolo nas lembranças de muitos momentos felizes alí vividos e compartilhados com
pessoas queridas, como o amigo Robelix.
Adeus Pina velho, feliz Pina novo, rsssss...
Boa sorte as novas geracoes que compartilham de velhos habitos locais, como
poder ir até a praia a pé e de outros novos, como conviver com os tubaroes.
de noticias, rapaz!
abracos, Andre'.
Pois, é...fiquei daqui, em Natal, pensando um pouco a respeito disso tudo. Posso dizer que fui privilegiado, afinal eu ainda iria completar um ano de idade quando fomos morar lá. Foi o que me disseram....bem, a recordação mais antiga que tenho foi levando comida para Bandit, recém-chegado a casa, ainda filhote. Dona Marly dra um prato azul de plástico (esse azul foi foda...)e eu, na minha inocência de sei lá que idade, peguei uma colher para dar comida ao cão!! E nossa mãe chegou a tempo de evitar uma esgoelada de cloher a dentro no pobre cachorro. Detalhe: o único a não ser mordido foi justamente você, Rob.
O jambeiro...protegi-o com tudo que tinha direito, até badoque, passando por pequenas pedras e tijolos. Cheguei a preparar armadilhas, tipo colocar um jambo colhido na calçada dentro de casa, estrategicamente próximo ao portão. Quem entrasse levaria uma pedrada!!
A respeito de nossas velhas vizinhas e as bolas,tenho uma boa: preparamos uma bola cheia de água e a jogamos de próposito dentro da casa de D. Dadá(caramba...) e ela veio, pegou a bola, colocou em cima de um "batente" ou matadouro e, fazendo uso de sua arma letal, ou seja, uma lâmina Gillette,levantou a mão, proferiu as últimas palvras e cortou!! A turma toda estava na frente do portão com aquele olhar de "misericórdia" , de "por favor, piedade!", e alguns até encenaram ou disseram algo; cara, a água desceu e molhou o vestido. Daí as palavras dela foram impóprias para todos os presentes...e a velocidade de sumiço da criançada foi próxima a Warp de Jornada nas Estrelas...
Aquela garagem serviu de palco para inúmeros torneios de futebol de bola de meia, sendo as traves as cadeiras da sala. Perdeu-se algumas unhas, teve umas brigas, mas foi muito legal. Lembro que havíamos ganhado skates-patinetes (eu e Paulo)e logo tiramos aquele guidão ridículo (que serviu para abrir e fechar os ferrolhos do portão da garagem até as últimas horas da casa...). Paulo levou uma queda (estava chovendo e a garagem ficava molhada) e nunca mais quis saber do skate...
É, irmão. A casa se foi,mas temos um filme dela, lembra-se. E assim é a vida. Mas guarde o mosaico...acho que algum museu vai querer mais cedo ou mais tarde, mas não venda!
Um beijão!
Daniel.
Pois é Leitão, fizeram o mesmo comigo em relação a Casa Forte. Cada vez que passo lá tem mais carros, mais prédios, menos casas, mais sinais de trânsito, mais comércio, mais barulho, mais engarrafamento... Fizeram o mesmo com Millôr Fernandes no bairro dele. Veja o que ele diz: "Vejo demolida uma das últimas casas da Vieira Souto. Somo em mim a curiosa sensação de que praticamente conheci todas as casas e muitas das pessoas que morreram, viveram e até nasceram aqui. Um acervo que se perde no grande ventre do nada. Ou melhor, se perde para os outros, não pra mim. O fantasma das casas que morrem fica embaixo das edificações que nascem, embora as gerações que chegam nem suspeitem das camadas de vidas e experiências em que pisam as suas.(1983)". Fazemos parte nós três, portanto, de uma confraria: a dos saudosos irremediáveis. Fazer o quê: são vidas que ocontecem nas nossas coisas. Abraço. Schuler 24/07/05 (01:16).
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