domingo, janeiro 30, 2005

Mr. Zimmerman II

Bob veio a mim num sonho, e explicou tudo direitinho sobre a questão da música pra Lenny Bruce: "é muito simples", ele me explicou com aquele inglês ininteligível dele. Lenny e Jesus são um só. Os dois pensavam além do tempo deles, quebraram regras, escandalizaram e desmascaram a hipocrisia da sociedade da época. Por isso, continuou, foram banidos, perseguidos, presos, julgados, condenados e mortos, injustamente, pelos que detinham o poder. Simples. Poxa, Bob, com você explicando fica até fácil! Eu ainda perguntei se não era uma contradição ele, Bob, ter se bandeado justamente pro lado daqueles que condenaram Lenny, e seguiam a Jesus apenas na fachada. Ele foi inclusive batizado numa igreja batista, por imersão total num tanque e tudo mais, mas ele desconversou e começou uma longa estória rápida e desenfreada " sobre opostos contrastes antagonismos ying e yang Jung budismo etc que minha cabeça começou a doer dizendo que se você quiser conhecer a Deus você tem que entender essa estória direitinho e parar com essa de procurar um Deus que é só 'bondade' mas 'maldade' também 'justiça' e 'injustiça' e por aí vai sempre contendo os opostos que são o símbolo da perfeição da plenitude sentar no colo do diabo e brincar e num minuto correr de volta pros jardins de Deus Amem!" Eram 4 da manhã, e eu não tive nem tempo de abrir a boca de novo, pois ele já me disse que tinha que partir, pois tinha que ordenhar duas vaquinhas na fazenda dele, e partiu cantarolando algo que eu não reconheci, com um palitinho de dentes no canto da boca! Depois que acordei fiquei achando que, naquele sentido, o disco não era tão contraditório assim. Fui ver a letra de novo, só que desta vez coloquei o nome de Jesus onde tinha Lenny Bruce, e a charada se desfez, na maior parte da música, de uma maneira impressionante. No fim pelo menos eu estava certo quando achei que a música parecia um hino, porque era mesmo!

Jesus Christ is dead but his ghost lives on and on
Never did get any Golden Globe award, never made it to Synanon.
He was an outlaw, that's for sure,More of an outlaw than you ever were.
Jesus Christ is gone but his spirit's livin' on and on.
Maybe he had some problems, maybe some things that he couldn't work out
But he sure was funny and he sure told the truth and he knew what he was talkin' about.
Never robbed any churches nor cut off any babies' heads,
He just took the folks in high places and he shined a light in their beds.
He's on some other shore, he didn't wanna live anymore.
Jesus Christ is dead but he didn't commit any crime
He just had the insight to rip off the lid before its time.
I rode with him in a taxi once, only for a mile and a half
Seemed like it took a couple of months.
Jesus Christ moved on and like the ones that killed him, gone.
They said that he was sick 'cause he didn't play by the rules
He just showed the wise men of his day to be nothing more than fools.
They stamped him and they labeled him like they do with pants and shirts,
He fought a war on a battlefield where every victory hurts.
Jesus Christ was bad, he was the brother that you never had.

sábado, janeiro 29, 2005

Mr. Zimmerman

Passei a manhã ouvindo seu Dylan a cantar. Tive a chance de vê-lo em Atlanta no ano passado e foi coisa pra não mais esquecer. Casa lotada, e eu em pé perto do palco pra ver o baixinho. Pra completar, ainda dava pra comprar cerveja num dos balcões laterais do teatro :) Uma música que sempre gostei, que ele não tocou, foi "Lenny Bruce" do disco "Shot of Love": uma balada, ou melhor, praticamente um hino batista, belíssima. Eu nunca parei pra prestar atenção na letra, e olhe que já ouço essa música desde que o disco foi lançado, em 1981! O disco ainda foi na época da conversão dele ao "cristianismo-protestante-americano-linha-dura-conservador-batista", ufa, e ainda cabia mais nome :( . Sem vergonha de ser ignorante, fui checar a letra da música direito, que falava do tal Lenny de maneira contida, mas mostrando admiração por um ser humano que não tinha nada de perfeito, e nem queria ser modelo pra nada ou ningúem, mas que era belo. Tudo bem, mas aí tive que ir no Google de novo pra saber quem diabos era Lenny Bruce, se é que ele tinha sido de carne e osso, ou existido fora da cabeça de Dylan! Num instante começei a rir, não por causa de Lenny (que é aquele mesmo do filme com Dustin Hofman), mas por causa da loucura de Bob em fazer uma música tão bonita, elogiando um herói underground, num disco cheio de músicas de inspiração judaico-messiânico-cristãs (é hoje)! O tal Lenny Bruce tinha sido um comediante de "stand up comedy", daqueles que enfrentam o público sozinhos, contando "causos" e piadas nem sempre politicamente corretas. O cara tinha sido perseguido, julgado e condenado não sei quantas vêzes pela mesma sociedade e religião que Bob agora fazia parte! Lenny, embora tivesse ganhado muito dinheiro, morreu pobre e quebrado pelos muitos processos e advogados, falido, numa over de heroína. Cheguei à conclusão, e não é a primeira vez, de que Mr Zimmerman, como Lenny Bruce, sabia como realmente deixar uma platéia perplexa. Abaixo, alguns trechos da música:
"Lenny Bruce is dead but he didn't commit any crime
He just had the insight to rip off the lid before its time...
They said that he was sick 'cause he didn't play by the rules
He just showed the wise men of his day to be nothing more than fools...
Lenny Bruce was bad, he was the brother that you never had."

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Uma troca inusitada de e-mails


Disco Novo nas paradas

Coisa de quem não tem o que fazer, mas que foi legal ter feito, foi esse e-mail que mandei pra Claudia Telles, filha da Silvinha, depois que achei aquelas fotos do fundo do baú. Ela também é cantora das boas, e ainda está bem ativa no sul do país:

"Oi, Cláudia, minha mãe encontrou estas fotos antigas enquanto arrumava o guarda-roupas dela. Elas foram tiradas em Natal RN em 1959! Só por brincadeira, tive a idéia de mandá-las para o Menescal, já que ele está nelas, mas não encontrei um e-mail dele na web. Sem querer, encontrei o seu site e, bem...acho que você vai gostar. Eu só fiz o scan dessas duas porque as outras 3 ou 4 estavam ainda coladas no álbum, mas eu posso mandá-las pra você depois, e com melhor qualidade e resolução. Um abraço e boa sorte na carreira! Peace!"

Ao que ela respodeu, em menos de 24 horas (viva a internet!):

"Oi Roberto, que coisa boa ver essas fotos. Quero ver as outras sim, por favor.Vou tentar achar o e-mail do Menescal, ele vai amar! Beijos e super obrigada. Claudia Telles"

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Buk Chinaski


O velho safado fazendo pose

Num blog de cachaceiro, não poderia deixar de receber a visita ilustre do caneiro-mor Bukowski, que dizia escrever pra não ficar louco, quer dizer, mais do que já era. Umas das minhas passagens favoritas é uma que fala dos garis que vêm pegar o lixo de madrugada. Eles ficam parados na frente da lata dele, olhando um para o outro, impressionados com a quantidade de garrafas. Da janela do apartamento, o velho ainda acordado sorri, e levanta a garrafa de cerveja num brinde aos garis, como dizendo "é isso aí meus filhos, tomei uma por uma, e agora vocês podem recolher tudo!". Bravo, Buk, quer dizer, tin tin!

Pérola perdida num álbum empoeirado


Roberto Menescal, Silvinha Teles e Mami em 1959!
(clique para ampliar)

Enquanto arrumava o guarda-roupas, minha mãe achou essa pérola, tirada em Natal-RN há uma porrada de tempo atrás. Na foto, Silvinha Telles, de lenço preto, umas das musas da bossa nova (quem não conhece Dindi, de Tom, feita pra ela) e Roberto Menescal, um dos papas até hoje, não só como violonista e guitarrista, mas como produtor, principalmente de Leila Pinheiro. Eles estavam numa tour pelo Nordeste e passaram um dia na praia passeando. Na foto também, Ana Cascudo, filha do folclorista famoso que foi até cédula do nosso dinheiro, nos anos 80.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Eu, depois de um regime


Auto Retrato

Este dinheiro que eu estou pisando é a fortuna que eu ganho (sonha) no meu emprego, em troca de duas úlceras, e uma aposentadoria precoce internado num manicômio!

Concurso Literário II

No concurso, acabamos mandando algumas poesias antigas nossas, pra tentar aumentar as chances de alguma premiação. A organização do concurso é muito maior do que pensávamos, e no encerramento acontecerão palestras por escritores conhecidos e parece que até a Ruth Cardoso vai estar por lá. Por outro lado deve haver um bocado de profissionais escrevendo pra esse negócio e talvez tenhamos que ir a Porto pagando a estadia mesmo, que fazer! Mais aí vai um que submeti, escrito há uns dez anos, que fazia parte de um conjuto de três chamado "Crise dos Trinta", escrito no auge das bebedeiras no baixo do Jiriquiti (Ilha do Leite), onde morava:

Quadro na Parede


Nave perdida em mares remotos

És tu minha vida

Remos partidos deixaram-te ao léu

Bravos marujos entregaram-se ao vinho

Em cópulas com belas sereias

Antropofágicas


Onde está a bússola precisa?

O saber de correntes e estrelas?


O norte agora é o erro

São rochas famintas de cedros

Mastros erguidos ao fundo

Num belo retrato de naufrágio

Concurso Literário

Semanas atrás descobrimos um concurso literário em Porto de Galinhas. É um concurso de contos e poesias, com premiações de finais de semana em Porto, como também a publicação numa coletânea. Resolvemos dar uma "esquentada nos tamborins" nessa estória de escrever e bolamos um conto sobre um cara que vai passar um fim de semana na praia e conhece uma deusa do amor, tendo com ela uma noite de amor explosivo (quer dizer, sexo do bom mesmo). Fizemos nas pressas, mas ficou bom, e a estória tem algumas reviravoltas também. Vou tentar publicar em partes aqui.

Por falar em crônicas

Juntei-me com um amigo pra provar que mesa de bar também é cultura e estamos escrevendo uma novela em conjunto. Alguns capítulos já foram escritos e a maioria das personagens já foram criadas. A novela é sobre um prédio de apartamentos e seus moradores, especialmente o major aposentado da Aeronáutica que passa os dias a ler jornais numa mesa perto da janela, e a observar a vida dos outros também!

Inaugurando o Robelixblog

Eu não sei que idéia genial foi essa de ter um blog, mas quando eu vi já tinha feito um. Na verdade eu nem sei pra quê eu quero ter um, mas quando as coisas são de graça a gente fica tentado a aceitar. Talvez tenha inventado essa estória como pretexto pra praticar algumas crônicas do dia a dia e contar as últimas do Brasil aos amigos distantes, ou falar de livros e música também. Vamos ver no que é que dá. Ah, o nome do blog é um apelido que me colocaram não só por causa do meu tamanho, mas pelo amor àquelas poções mágicas, tipo cerveja, maltado escocês, cachaça etc!