sábado, setembro 09, 2006

Do Uruguai a Madalena


Mercado da Madalena


No começo de 2001 tive uma segunda passagem rápida pela Uptown Band, antes do meu auto-exílio nos EUA por 4 anos. Naquela época a banda estava passando uma temporada no finado bar Uruguai nas ladeiras de Olinda. Era um taverna super charmosa, com uma lotação de, no máximo, meia centena de pessoas. Todos os meses Giovanni Papaléo estava trazendo vários convidados ilustres do blues brasileiro, quando geralmente eles vinham para tocar na Sexta no Uruguai, e Sábados no Downtown. Por coincidência vamos ter dois daqueles convidados dividindo o mesmo palco no "OI Blues By Night" este mês de Setembro aqui em Recife: Lancaster e Big Joe Manfra.

Naquela temporada, Lancaster foi o primeiro que conheci, ainda no final de 2000. Ele veio acompanhado de Flávio Naves no órgão, e fizemos shows apoteóticos nos dois bares, com destaque para a noite no Downtown, com casa lotada, onde ele foi pro meio das massas com sua guitarra Telecaster sem fio. Ele tocou em cima das mesas, do balcão e, a la Buddy Guy, provavelmente foi perturbar alguém nos banheiros também!

Mas a melhor recordação que tenho de Lancaster foi um papo no jantar, já depois do show no Uruguai, ainda na Sexta-Feira. Eu estava me preparando para viajar, e não tinha a menor idéia como os gringos iriam me receber, musicalmente falando. Ele me pegou em meio a essas preocupações, e disse com a maior calma do mundo que eu iria me dar bem, e que ele apostava em mim. A princípio eu fiquei meio incrédulo, achando que ele só estava fazendo média. No Sábado, quando nos despedimos, ele repetiu as mesmas palavras, e dessa vez eu resolvi carregá-las comigo na minha aventura. No final ele estava certo. Na primeira noite que toquei numa Jam ainda em Athens, Geórgia, o negão de quase 2 metros que cantava lá veio falar comigo no final: ele chegou sorrindo e me deu um abraço que quase me quebra uma costela. Ele disse que eu era bem vindo, e que eu voltasse sempre que quisesse... Fiquei devendo essa a Mr Lancaster...

Big Joe Manfra é outra figura rara. A guitarra fica pequena na mão dele, e que é uma mão peso-pesada. Mas maltratar mesmo só as pobres das guitarras dele. No convívio social ele é o cara pra você passar a noite rindo das estórias. Tocamos também na Sexta, e após o show ficamos ali de bobeira no balcão do bar, tomando umas, de leve. Lá pelas tantas ele sugere irmos a outro local qualquer, continuar o papo. Acabamos num bar também extinto agora, o Pretexto, que ficava ali na frente do Carrefour, ao lado do posto de gasolina. Mal tínhamos chegado, e aparece um maníaco sexual do Blues, meu amigo Wilson Neto. O cara quase cai pra trás com meu convidado! Ele imediatamente encostou o carro perto da gente, para ouvirmos horas de Blues a fio, tudo regado a muita cerveja, uísque, e uma tal de cachaça caseira, vermelha(!) que eles tinham.

Lá pelas tantas eu não sei quem teve a idéia brilhante, e eu digo que isso é coisa de bêbado. Dos bêbados eu tenho que eximir Big Joe, porque primeiro ele tava mais era criando um aquário no copo dele, embora sem nunca perder o espírito da noite, e segundo porque ele não conhecia a cidade para fazer uma sugestão daquelas. Mas a idéia é que cismamos que Big Joe tinha que comer um "Patinho no Feijão" no mercado da Madalena! Já estava quase na hora do mercado abrir, e saimos, aquela trupe incansável para o tal lugar. Chegando lá, o dono do "Bar dos Cornos" ficou olhando incrédulo aquela invasão bárbara, que insistia com ele se já saía um patinho no feijão e cerveja gelada às 7 da matina! Ele disse que sim, do dia anterior, ao que vibramos dizendo que aquele é que era o bom, que já tava apurado!

No final, lá pelas 10 da manhã, fui deixar Big Joe no hotel em Boa Viagem. Ficamos ali ainda rindo das estórias e fazendo piada do povo fazendo ginástica no calçadão! Ainda hoje, quando nos falamos, ele ainda se gaba de ter batido na cachaça, e carregado pra casa um tal de Bob Milk, que ele me apelidou, que diziam beber muito. Eu mereço!