segunda-feira, setembro 19, 2005

AULAS DE PIANO NA INFÂNCIA

Esse texto eu escrevi originariamente para o blog do Zog, www.zabumbelia.blogspot.com , como um comentário sobre as aulas de piano que ele também teve, mas eu gostei tanto que copiei pra cá, no blog do Robelix.

É, parece que todo mundo tem uma estória sobre o professor de piano. Oscar Wilde dizia que se alguém quizesse se manter jovem pra sempre, era só voltar no tempo e cometer os mesmos erros de novo... mas esse de ter largado o piano foi f... Lembro-me andando pela rua de areia por volta das 3 da tarde, os livros de partitura embaixo do braço. O sol em cima, impiedoso, e embaixo a poeira subindo da minha botinha ortopédica (que cena singela ha ha ha) Nas calçadas ou nos portões das casas, os meninos já começavam a se aglomerar para "tirar o time", ou seja, começar a pelada. E eu empacotado indo para minhas aulas de piano! E aguentar a perturbação dos moleques, hein? "Lá vai ´ela´ pras aulinhas de piano ha ha ha!". O pior era que tinha um rapaz, um tanto quanto delicado, lá de outra vizinhança que vinha praticar piano na igreja lá perto de casa, então já se viu a associação que os moleques faziam...Os livros de partitura até que me fascinavam, com uns desenhos medievais no começo de cada música, engraçado. Mas o professor...Ele era enorme e muito velho, formado na Escola de Belas Artes do Rio, no começo do século! Meu problema com ele era entender o que ele falava (ainda mais com a cabeça no jogo na rua. Dava até pra ouvir a gritaria...). Segundo, e mais grave, era o cheiro de urina das calças dele. Às vêzes eu ficava sem ar, juro. Terceiro, era a metodologia, que associava a duração musical das notas com as fases da lua! Todas as tardes eu tinha que recitar uma ladainha sobre Minguante, Crescente, Minuando etc, etc, o que hoje, quase 40 anos depois, e com alguma experiência musical, ainda não faz sentido algum pra mim! Um dia minha mãe percebendo minha infelicidade, perguntou-me se eu queria fazer uma outra atividade na escola. Eu tinha 8 ou 9 anos de idade e sentia a necessidade de me defender dos malandros na rua. Na escola eles tinham acabado de abrir uma turma de Judô...Bem, hoje em dia, com todo o Judô, continuo indefeso dos assaltos da rua. Em compensação meu conhecimento de piano é ZERO!

PS: Ah, o rapaz que vinha estudar na igreja veio a ser um concertista renomado, com mestrado nos EUA, e por amizade ainda tocou no meu casamento...

terça-feira, julho 12, 2005

Crítica a um Jovem Autor


Velho Manucrito

"Era uma vez um menino muito alegre. Era pobre mas muito feliz porque tinha muitos amigos ricos. De cada um recebia dez centavos por dia. Depois de alguns dias seu pai disse que um ladrão tinha fugido da cadeia. Certos dias depois ouve-se um tiro e então o menino correu até no chão. Seu pai ferido, mas muito ferido. O que será ter acontecido ao pai do menino? O ladrão! Grita o menino enfurecido. Então o menino com a arma de seu pai...
O Menino chega a casa do ladrão. Manda chumbo BAM, BAM. Aquele menino! BAM,BAM,BAM. Então a polícia ouve os tiros. Muito bem rapaz. Mãos ao alto! Você fez um bom serviço menino. Será recompensado pelo comandante. Finalmente o menino vem para sua casa com uma boa novidade. Então o menino viveu muito mais feliz do (que)já vivia."

Antes de partirmos da casa, minha sobrinha me apareceu com esse texto acima: "tio olha o que eu achei nas coisas de vovó". Nas mãos ela tinha uma folha de caderno amarelado, com uns garranchos rabiscados com algum tipo de hidrocor verde. "O menino Alegre", anunciava o título sublinhado. Demos umas boas risadas lendo essa primeira "obra-prima", escrita quando eu tinha uns 7 anos de idade, e bote tempo que esse papel passou guardado! Ela achou que a melhor parte do texto foi justamente quando o narrador diz "Aquele menino", e ela mal conseguia parar de rir. Tudo bem pode rir. Mas depois resolvi dar uma olhada nessa cria que estava largada numa gaveta por uns bons 30 anos, e fazer um crítica ao conto do jovem autor. Descobri muitas coisas obscuras, e no mínimo dignas de repreensão nesse garoto, e olhe que eu nem vou criticar a técnica, mas o conteúdo moral e ético da estória que o pirralha escreveu. Vejamos:

  • O menino era sustentado por amigos ricos que lhe davam 10 centavos por dia. Isso já parece um pouco estranho, principalmente se formos ver quanto valia 10 cents naqueles idos de 1970 (mesadão?). No decorrer da estória é que esse assunto vai ficar mais claro.
  • O pai era muito informado sobre páginas policiais, ou trabalhava no ramo, pois sabia da fuga de um réles ladrão, que aparentemente não era famoso, senão os seus feitos seriam citados. E porque a importância de dizer isso ao menino?
  • Depois de alguns dias o pai é baleado em casa. O menino chega a ouvir o tiro mas quando chega encontra apenas o pai ferido. Ele não viu quem foi, daí a pergunta do narrador "o que será ter acontecido ao pai do menino". De repente ele chega à conclusão que o ladrão que tinha fugido da cadeia era o culpado! Mas como ele chegou a essa conclusão? Eu sinceramente não sei, mas quero crer que houve alguma informação em "off" por parte do pai dele, e que não nos foi relatada. Então o ladrão era alguém que os conhecia, e que por um motivo ou outro queria matar o pai do menino (acerto de contas?). Seria o pai do garoto envolvido com esse tipo de gente? Ou seria ele um policial que mandou o cara para a cadeia, já que o narrador não explica no texto?
  • Agora vem a parte que mais me intriga: o menino pega a arma do pai (quer dizer que ele tinha uma arma afinal, hein!), e vai DIRETO PARA A CASA DO BANDIDO! Espera aí! O menino nem sequer chamou o socorro para o pai, e já se despencou em direção à casa do suposto bandido (que eu já desconfio não ser o único vilão nessa estória aparentemente inocente). Quer dizer que ele sabia onde o cara morava? Talvez morasse na mesma vila ou comunidade, quem sabe, mas ele foi direto para lá.
  • De agora em diante vem um mar de atitudes repugnantes e totalmente contrárias aos direitos humanos: a) o menino, que até agora não parece ter provas suficientes, entra na casa do suposto ladrão e o executa com cinco tiros (admirável para esse alter-ego de 7 anos de idade!), com o elogio citado acima "aquele menino" entre o segundo e terceiro tiro! b) Em seguida chega a polícia, que mais uma vez reforça o elogio, usando dessa vez jargão de esquadrões de extermínio, do tipo você fez um "bom serviço"! c) O "Serviço" foi tão bem feito que até o comandante vai recompensá-lo por ter executado alguém sem ter-lhe dado direito a um julgamento justo e direito de defesa. Essa foi boa!
  • Enfim esse pequeno monstro social retorna a sua casa mais feliz do que já tinha sido (palavras dele). Após saciar sua sede num banho de sangue, ainda tem o seu trabalho reconhecido pelos que representam o Estado e que deveriam ter protegido o outro que morreu.
  • Assim começa a ficar mais claro essa estória de ter uma mesada do início do texto, onde provalmente essa criaturinha inocente deveria providenciar fumo ou cocaína aos filhinhos-de-papai, ou era apenas um simples caso de extorsão mesmo...O menino alegre, pois sim!


segunda-feira, maio 16, 2005

Da Janela Lateral


Praia do Pina e seu antigo Cano

"Subversão ininterrupta da produção, contínua perturbação de todas as relações sociais, interminável incerteza e agitação distinguem a era burguesa de todas as anteriores. Todas as relações sociais fixas, enrijecidas, com seu travo de antiguidade, veneráveis preconceitos e opiniões, foram banidas; todas as novas relações envelhecem antes mesmo de se ossificar. Tudo que é sólido desmancha no ar; tudo que é sagrado é profanado; e os homens finalmente são levados a enfrentar com um olhar sem ilusões as verdadeiras condições de suas vidas." (Karl Marx)

Entrei com cuidado, para não tropeçar nas caixas. No canto da sala estavam os velhos bolachões de vinil, juntos aos retratos de santos e antepassados, embrulhados em papel de padaria. Fui para a garagem, onde ainda estava a cadeira de balanço. Fiquei assistindo aos trabalhadores passarem com os móveis, mudo, sem pensar em coisa alguma. Na parede, pintados a lápis-de-cêra, desenhos de minhas sobrinhas, todos com temas de boas vindas para mim, quando retornei de uma ausência de quatro anos. Fiquei rindo de um que mostrava uma placa de proibição, um círculo com uma faixa vermelha atravessada, e no centro da placa, uma mala de viagem. Procurei por um apoio para me balançar, e apoiei a mão na grade de madeira que dava para o quintal. Nas grades, as marcas dos dentes de meu cão, Bandit, feitas trinta anos atrás.
Finalmente alguma coisa começou a se mover dentro da minha cabeça, e a realidade começou a pedir passagem, e me acordar de meu sonho. Tínhamos passado 34 anos ali, e eu sabia que agora era pra valer: tinhamos que deixar o lugar, para que fosse demolido, e desse lugar a mais um arranha-céus de luxo, ou um estacionamento. Os últimos anos eu tinha passado fora do país, e na verdade achava que jamais veria a casa novamente, ou o velho jambeiro na frente. Mas no fim eu tive a chance de chegar a tempo, para despachar o corpo.
Meu pai aproximou-se, com as mãos nos bolsos, e deu uma olhada ao redor. Disse que estava indo ao bar em outra rua, esperar que o caminhão da mudança passasse por lá. Fiquei olhando o velho partir e começei a perambular pela casa. Parei na janela do meu quarto, que estava fechada. Abri lentamente a janelinha que permite visualizar o lado de fora e libera a passagem de ar. Pra meu espanto, no portão estava eu, com mais ou menos uns 10 anos de idade, vindo buscar uma bola de futebol que alguém tinha chutado. Minha respiração ficou suspensa. O que me chocava não era só minha junventude, mas a rua. Ela ainda estava sem calçamento, e meus pés estavam todos sujos. A gritaria dos meninos era também insurportável, e nossa vizinha da frente estava no portão da bela casa dela, ameaçando-nos de rasgar a bola na próxima vez que a bola caísse lá. Mas nós não ligávamos, pois sempre conseguíamos pular o muro e chegar na frente dela. Era incrível como havia crianças brincando naquela rua. Dezenas! Verdadeiras matilhas barulhentas, e sujas da areia da rua. Mas parecíamos tão felizes! Fechei a janela e todo ruído parou. Bem, agora só ouvia o zumbido dos carros, que passavam em alta velocidade para uma rua tão pequena. A rua agora é calçada com pedras e não é possível avistar uma criança num raio de 1km.
Me dirigi ao outro quarto, que tinha a janela aberta para o quintal. Dali costumávamos ouvir o motor dos barcos a diesel dos pescadores, quando entravam ou saiam da baía, como também a gritaria dos garçons que jogavam bola na praia às 4 da manhã. Agora toda a visão que eu tinha era do imponente prédio de luxo plantado bem no nosso quintal. Parecia um pesadelo, ou um conto de ficção científica. De onde teria saído aquele monstro tão alto e forte, bem nos fundos da nossa casa? Parecia que eu agora começava a ouvir um murmúrio, confundido com os martelar incessante dos trabalhadores, algo assim como "o futuro chegou e o passado tem que dar vez e passagem modernizar crescer desmatar construir desapropriar pavimentar aplainar levantar altares a esse deus que se chama modernidade progresso futuro que logo deixam de ser e destruiremos e criaremos o novo de novo novamente novidade novinho em folha". Afinal Belchior já não cantava que o novo sempre vem? E aí eu pergunto se ainda é pecado amar o passado. É? "É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem".
O passado agora parecia o porto mais seguro. O ser humano perde toda estabilidade quando ele não tem história, referencial, registros, monumentos, ruas...casas. E eu, que como Fausto, parecia ter vendido a alma em troca de progresso, do novo, de aventura, agora parecia pagar por isso, sendo arrancado do que era velho, mas sólido, rotineiro, mas estável. Estava agora como o doido americano, Withman, que também era encantado com a aventura humana, mas que também caía na real, de vez em quando. Sim, o rotineiro também é necessário e saudável, e há vida nele, se você souber perceber os prazeres das pequenas coisas.

"Wil you seek afar off?
You surely come back at last
In things best known to you finding the best or as good as the best" (Whitman)

(grosseiramente traduzido)

"Você vai continuar buscando na distância?
Você enfim certamente retorna, nas coisas que você melhor conhece, encontrando o melhor ou tão bom quanto o melhor"

Impressionante foi a coincidência de tudo isso que estávamos passando, com o ensaio de Marshall Berman "Tudo que é sólido desmancha no ar" que foi inspirado no texto de Marx citado acima. Nele Berman fala de Modernidade e de como o homem se relaciona com esse verdadeiro deus de nossos dias. Ele foi testemunha da destruição do Bronx nos anos 50, para a construção de novas estradas, onde o bairro foi cortado ao meio, com muitas desapropriações e destruição. O bairro se tornou naquilo que conhecemos pelos filmes, mas que antes era um locar de prosperidade, e de vida cultural forte. Na primeira parte do livro ele usa como alegoria o livro de Goethe, Fausto II, que vendeu a alma a Mephisto (o diabo mesmo) em troca de conhecimento e progresso. Nesse livro, Fausto aparece já como administrador da cidade, que agora está obcecada com o progresso. Berman comenta que nessa parte Fausto comete seu primeiro ato de maldade realmente consciente. Após um frenesi de construção por toda parte, ele começa a cobiçar as terras de um casal de velhos, onde ele pretende construir uma torre de observação para ele e os seus, tão alto talvez quanto o prédio de luxo no nosso quintal. Abaixo, várias citações do livro de Berman (em itálico) e de Fausto:

Levantem-se da cama, meus servos! Todos os homens!
Deixem olhos felizes contemplar meu plano audacioso.
Apanhem suas ferramentas, agitem suas pás e cavadeiras!
O que foi planejado tem que ser imediatamente cumprido.(Fausto)

Eles iriam esbravejar em vão todos os dias,
Cavar e esburacar, pazada por pazada;
Onde as tochas enxameam à noite,
Havia uma represa quando acordávamos.
Sacrifícios humanos sangravam,
Gritos de horror iriam fender a noite,
E onde as chamas se estreitam na direção do mar
Um canal iria saudar a luz. (Fausto)

Fausto se torna obcecado com o velho casal e sua pequena porção de terra:

Esse casal de velhos devia ter-se afastado,
Eu quero Tílias sob meu controle.
Pois essas poucas árvores que me são negadas
Comprometem minha propriedade como um todo
...Por isso nossa alma se debruça sobre a cerca,
Para sentir em meio à plenitude, o que nos falta(Fausto)

Eles precisam ser afastados para dar lugar àquilo que Fausto passa a ver como a culminação do seu trabalho: uma torre de observação, do alto da qual ele e os seus possam "contemplar a distância até o infinito". Ele ofereçe a Filemo e Báucia uma importância em dinheiro ou sua transferência para outra propriedade. Mas na sua idade, que fariam eles com o dinheiro? E depois de viver a vida aí, como poderiam começar nova vida em outra parte? Eles se recusam a mudar.

Resistência e teimosia assim
Frustram o êxito mais glorioso
Até o ponto em que, lamentavelmente, o homem começa a se cansar de ser justo. (Fausto)

Bem, no livro de Goethe os velhos têm a casa queimada e são assassinados. No nosso caso meus pais aceitaram uma modesta idenização e foram despachados às pressas da beira da praia para os subúrbios, bem longe de qualquer cheiro de mar. Embora moremos numa cidade do litoral, morar perto da água é para quem pode pagar R$300.000 por um apartamento, e assim partiram uns dos últimos remanescentes da rua, com seus móveis velhos, para dar passagem ao novo...e aos ricos.
Após peregrinar pelos aposentos da casa, entreguei as chaves de meu carro à minha espôsa, que as recebeu em protesto. Não liguei para o que ela falava e me dirigi também ao boteco na outra rua. Deixei a casa sem olhar para trás, pra não virar estátua de sal da praia do Pina (o que seria melhor idéia...). Juntei-me a meu pai e aos bêbados de plantão, que contavam estórias e piadas, ou se gabavam de um passado mais glorioso. Eu e o velho não falamos mais sobre a casa, ou sobre a vida. Apenas bebemos a vodka dele, e eu minha cachaça com cerveja. Enfim o caminhão e os carros passaram para nos pegar, e assim partimos em direção ao futuro sempre incerto.
Cheguei em casa tarde e cansado. No porta-malas do carro estavam meus livros que ainda estavam na casa dos meus pais. Abri a porta para apanhá-los mas não tinha mais coragem de arrumar, ou carregar coisa alguma. No canto, um embrulho retangular e pesado, em papel de jornal. Apalpei com carinho, e abri lentamente. Dentro, um mosaico vermelho, com temas rebuscasdos em branco, arrancado da sala de jantar.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

O Sopão do Jung IV (Uma Resposta a Jó)

Nunca pensei que Jung fosse render tanto neste blog, mas vamos lá! Vamos dar uma olhada no livro mais polêmico dele, chamado Uma Resposta a Jó. O livrinho é tido como um dos mais accesíveis, embora o conteúdo tenha causado um rebuliço nos meios intelectuais e eclesiásticos. Diz Jung que ele levou dezenas de anos pra se decidir se escrevia o livro ou não, por tratar-se de uma questão cara a ele, como também tinha medo de ser mal interpretado. Ele alegou várias razões para finalmente editá-lo, entre elas, que muitos de seus pacientes sempre terem pedido que ele escrevesse algo sobre o assunto, como também depois de Aion, o livro que falava de Cristo, ele precisasse terminar o pacote e falar de Deus pai. Finalmente ele resolveu disparar a metralhadora, e vamos ver onde ele foi parar desta vêz!
  • Primeiro, ele diz acreditar que nada do que ele possa dizer, poderá atingir Deus mesmo, se ele existir.
  • Segundo, ele afirmou que o livro era sobre a ' imagem' que o mundo Ocidental (e Luterano por parte dele), tinha sobre Deus, e que ele não estava tentando fundar uma nova doutrina, ou religião.
  • Embora ele tenha feito essa declaração acima, no livro muita gente tem a impressão que ele está sendo maroto, ou sarcástico, e que tem muita coisa com sentido dúbio. O livro também é carregado de idéias gnósticas e orientais.
  • Como no livro anterior, Aion, Jung começa a dissertar sobre o que se passava na psique das pessoas na época em que o livro da bíblia, Jó, foi escrito. Esse livro é, provavelmente, o mais antigo dos livros bíblicos, escrito 500 ou 600 anos AC, antes mesmo de 'Gênesis' , como também as odisséias de Moisés, Davi e os profetas. Então o livro de Jó descrevia ainda um Deus com facetas Politeístas, ou vários deuses em um.
  • Seriam necessários uns 10 blogs deste pra poder explicar como Jung chegou às conclusões dele, mas segue abaixo os temas principais do livro, que podem soar incríveis pra quem não está acostumado com esse tipo de leitura, mas é o que tá escrito lá, e aperte os cintos!
  • Primeiro, o livro de Jó era sobre um homem pedindo a ajuda de Deus contra o próprio Deus! (tem alguém ainda aï?)
  • O livro questiona a visão de que, na imagem do Deus ocidental, hoje em dia, só cabe tudo de bom e positivo e justo, e nunca os opostos. Tudo o que for negativo terá que ser EXTERIOR a Deus, ou seja, "fraternalmente" dividido entre o diabo, nós homens, o acaso, ou algo "permitido" por Deus. Mas Jung diz que nem sempre foi assim, e que os cristãos primitivos tinham uma outra idéia de Deus.
  • O livro de Jung alega que Deus criou o mundo involuntarimente, inconscientemente (sem querer mesmo, tipo o nosso "foi mal aí"), talvez num sonho? Isso porque ainda soe (embora seja super natural dentro das igrejas cristãs) incrível que Deus criou o mundo com onisciência (segundo a Bíblia), sabendo que ao longo dos anos iria matar e mandar para o fogo eterno, literalmente, mais de 99,9% da criação humana, seja com água, fogo, ou guerras mundiais, daí ficar melhor acreditar que somos um "acidente", senão da natureza, de Deus.
  • Ele diz que, no livro de Jó, Lúcifer não tinha caído dos céus ainda, e que ele tinha livre acesso a Deus. Assim, em todas reúniões de cúpula, ía lá satã fazer "inferninho" (sem sacanagem) com o coitado do Jó. O diabo então provoca Deus a lançar desgraça sobre desgraça sobre Jó, como formar de "provar" a fidelidade do homem. Jó da parte dele não podia ser mais justo, fazendo o que um ser humano imperfeito podia pra agradar a Deus. Mas não teve jeito, e Jó começou a perder tudo que tinha, de colheitas a filhos, e riquezas, como também arranjar um monte de doença.
  • Após Jó passar no "teste", ele foi "premiado" pra receber tudo que tinha perdido, em dobro, embora os filhos mortos não retornassem das tumbas...
  • Segundo Jung, algo de errado acontece na administração central do céu, ou do roteirista do livro de Jó, onde o vilão (Satã) consegue sair de fininho (ninguém fala mais dele), e ficam na estória apenas um Deus que parece ter sido enganado a fazer sofrer um justo, e o próprio Jó. Daí surgirem as especulações de que, ou Deus reina pela mão do diabo também, ou houve um "arrumadinho", ou esquema pra protejer o filho torto dele.
  • Já partindo para o final do livro de Jó, Deus resolve ir falar pessoalmente com Jó. Pra surpresa de todos ele não vai lá pra consolá-lo, mas dá um tremenda lição de moral no cara, e ainda apareceu por lá com todo o aparato de um Deus poderoso, entre raios e trovões e voz retumbante, e de maneira intimidadora. Jó parece não estar surpreso, e fica quietinho sem tentar argumentar, pois sabia que a "chapa dele tava quente". Ele também sabia que aquele Deus era bem "esquentado", que qualquer vacilo e ele viraria pó num segundo. Então a quem recorrer quando você está sendo vítima de Deus, senão recorrer ao próprio Deus por ajuda? Foi o que Jó fez se humilhando, embora ele fosse o único certo nessa estória.
  • Mas a frente, no livro de Jung, ele vem com o desfecho que realmente causou furor. Ele explica que Deus percebeu que tinha sido injusto com Jó, e que precisava dar um resposta a ele. A resposta foi encarnar na figura de um homem, para que dessa forma o dano pudesse ser reparado, e "Deus, não o Homem, pudesse ser redimido!" Agora durma com um barulho desses!

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

O Sopão do Jung III (O Oriente e o Ocidente)

Os teólogos não poderiam pedir mais de um homem secular, das ciências. No mundo de Jung havia bastante espaço para o sagrado, e até para Deus, embora Jung fosse provavelmente ateu. Apesar de originariamente ser protestante, ele sempre fez muitas concessões à Igreja Católica. Ele considerava o mundo protestante bastante 'estéril', em termos de imaginação e simbologia, a começar das paredes das igrejas, desprovidas de qualquer imagem, mistério, de 'espanto' por um Deus que deveria ser terrível e incomensurável. Por outro lado, ele considerava os católicos como os verdadeiros herdeiros do cristianismo, e que tinham pelo menos Maria como uma verdadeira representante da Anima, a famosa representação feminina no inconsciente masculino; mais um arquétipo. Ele também geralmente aconselhava os pacientes a se manterem na religião dos pais deles, que não fizessem ruptura alguma, o que ele considerava mais saudável para a vida psiquíca, daí não ser espanto o fato dos livros dele serem editados no Brasil pela Vozes, uma editora católica.
  • Jung também chamou a atencão do Ocidente para as filosofias e religiões orientais. Ele via um paralelismo tremendo entre a psicologia dele e as técnicas de meditação de ioga, como também o Budismo. A busca pelo ' Nirvana' era, para ele, nada mais do que a busca pelo auto-conhecimento do sistema dele. Como não conseguia deixar de ser polêmico, também escreveu sobre o "Livro dos Mortos" dos bardos, onde o vivos aprendiam o que fazer logo após a morte. Jung considerava a 'estrela' do sistema dele, o Inconsciente, como um mar inteiro a ser conquistado, enquanto que a parte consciente do ser humano era apenas uma ilha no oceano. A atitude Oriental de introversão era muito interessante para ele, que achava-a mais adequada ao auto-conhecimento. Mas ele sempre fez questão de ressaltar que a prática de religões orientais pelo homem ocidental, ou meditação, tipo Ioga, eram, no mínimo desajeitadas, e não muito apropriadas. Ele achava que a bagagem ocidental era pesada demais pra se livrar assim facilmente, e que ningúem jamais se livraria dela sem artificialismos. Certamente ele foi testemunha do interesse e modismo, até hoje, pelo pensamento oriental, geralmente com uma abordagem rasa, sem a experiência e a visão do mundo de um oriental.
  • Os alquimistas medievais também entraram nos livros dele (tinha espaço pra todo mundo!). O caso dele com os velhinhos da idade média, é que eles não só tentavam transformar qualquer metal em ouro (o que ele considerava mais lenda do que tudo), como também eram parte de grupos gnósticos, de procura do conhecimento. Os caras também foram os primeiros químicos e predecessores dos cientistas modernos. Mas não era só a questão do alquimistas serem gnósticos (Gnose=Conhecimento), ou seja, aquela mistura do criolo doido entre filosofia, religiões 'pagãs', ou para-cristãs, e por aí vai. Jung também achava que o manusear dos metais, elementos, do fogo, fusão etc eram uma alegoria da busca pelo auto-conhecimento, da introspecção, da projeção do inconsciente, e sai da frente.
  • Havia também muito espaço para os considerados heréticos pelo cristianismo, e ele mergulhou fundo nos evangelhos gnósticos, como também no misticismo cristão da idade média. Tudo isso ele fez em busca de simbologias, arquétipos, comportamentos, e de entender como Deus era visto em diferentes épocas e culturas.
  • Toda essa bagagem e esse 'fuçar' em livros escritos em linguagens mortas, como pesquisar as muitas facetas psicológicas de diversos povos, culturas, levaram-no a escrever livros complexos, cheios de referências em Latim, gravuras antigas, muita Arte, e muita história da religião. Ele não tinha dificuldade, ou constrangimento algum em mexer em vespeiros, levantar pedras cheias de cobras embaixo, num eruditistmo impressionante.
  • Já no fim da carreira, escreveu dois livros bombásticos, onde ele mexia numa verdadeira casa de abelhas: o aspecto psicológico da imagem, ou arquétipo, de Cristo, no livro "Aion", onde ele tenta mostrar o porquê do sucesso do cristianismo, surgido no ápice da manifestação, no 'Inconsciente Coletivo' dos povos, do "deus que se torna homem", e vai ao 'Inferno' (Inconsciente) por três dias para resgatar a alma de todos. O livro foi um verdadeiro coquetel molotov nos meios eclesiásticos, e mal a Igreja tinha se recuperado, ele veio com o segundo livro, chamado " Uma Respota a Jó", onde ele, desta vez, põe na berlinda a imagem de Deus segundo o cristianismo!
  • Na próxima postagem, uma pincelada nesse segundo livro que causou tanta polêmica. Leia por sua conta e risco!

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

O Sopão do Jung II (sincronicidade)

O livro virou até título de disco de Sting: Syncronicity! Uau, que palavra bonita danada! Sobre o que será esse livro, ou melhor, o disco do Sting! O livro foi escrito na maturidade do grande Psiquiatra-Filósofo (outros diriam senilidade, mas a galera não 'aliveia' mesmo), nos anos 50. Para o inglês foi traduzido como “Syncronicity: an acausal connecting principle”, e pra ser explicado num blog, ou seja, feito caldo de cana, eu diria logo que ele tentou provar que existem “coincidências com significado”, ou dois fatos que acontecem ao mesmo tempo, onde um não foi causado pelo outro, embora tenham um significado só, um reforçando, ou afirmando o outro. Simples pra caramba! Agora vai explicar e desenvolver pra você ver o que é bom pra tosse! De saída também, vou logo dizendo o que os críticos dizem: que a mente humana, quando quer, encontra significado pra tudo, e tem a tendência de apenas lembrar as coincidências, e esquecer os muitos desencontros e falta de significado algum na vida. Pra esse negócio eles deram até nome de doença, e quem quiser que dê uma pesquisada: 'Apofenia', ui! Mas voltando pra Jung, o interesse dele pelo livro da sabedoria chinêsa, I-ching, tinha a ver com essa busca de significados na vida: o ser humano, as varetas jogadas na sorte, o cosmo, e o texto do oráculo,juntos, todos estavam em ‘sincronia’, e o resto era só achar o significado daquilo tudo, indicado no texto do livro.Claro que tudo isso dá margem pra um bocado de interpretação e distorção também, por que não. No mesmo livro sobre 'Sincronicidade', acontece a pesquisa dele com Astrologia, que falei na postagem anterior, e não é leitura pra os fracos de espírito! A pesquisa envolve algumas centenas de casais, com diversos tipos de signos, combinações, ascendentes etc, com várias tabelas ininteligíveis pra qualquer um com um cabelo de sanidade! Mas eu sempre volto pra Jung quando começo a ter sonhos e viver coincidências nessa vida a fora, mas no fim eu não consigo achar o significado disso tudo. Tempos atrás passei a noite sonhando com tubarões, e nem tinha um bicho pra fazer uma fezinha. Pela manhã fui a praia e, enquanto degustava umas geladinhas, comentei com os amigos sobre os sonhos. Não deu meia hora e apareceu um tubarão morto, boiando a poucos metros da praia!!! Danou-se! Corremos pra pegar o bicho, mas os salva-vidas que faziam a ronda na praia, chegaram primeiro de Jet-ski! Ficamos um bom tempo tentando decifrar o significado daquilo tudo, o que aumentou bastante o consumo de cervejas, pra alegria do barraqueiro! Agora me dê uma explicação pra essa relação ‘acausal’ entre meu sonho e o tubarão morto, que eu te pago uma cerveja da sua preferência! Mas a idéia tem um apelo forte, e sugere que esse mundo tem explicação, e que as coisas não estão tão soltas assim, sem sentido. Bom pra quem acredita... Bem cada um faça o melhor uso da sincronicidade. Eu pelo menos ainda gosto pra caramba daquela faixa do disco “Every breath you take, every move you make....Oh can’t you see you belong to me”!!!!. Na próxima vamos de religiões orientais e Alquimia!

O Sopão do Jung

O livro do cara passou uns 20 anos lá na prateleira da casa de meus pais. Chamava-se O Homem e Seus Símbolos. Era um livro com encadernação luxuosa, cheio de figurinhas e fotografias. Legal. Quando eu estava beirando os 30, em crise existencial, seja lá o que for isso, eu resolvi dar uma folheada naquele livrão, que até parecia trazer alguma explicação pra minha sonhadoria assombrada de todas as noites, e alucinações etílicas também. Rapaz, eu não sei se encontrei alguma resposta no livro, não, mas eu garanto que era muito mais divertido do que ler O Senhor dos Anéis! O cara tinha uma imaginação impressionante, e não escrevia pra fazer graça pra ningúem, garanto. Esse livro tinha sido escrito pra o público leigo, e foi o último que ele escreveu. O livro era uma introdução ao pensamenteo dele, bem mastigado. Acabei tomando gosto por esse tipo de leitura, e parti pra ler outros mais difíceis dele, dos quais eu entendia 10 páginas em cada 1.000, mas eu gostava, sei lá, eu acho que não sou muito normal mesmo... Às vêzes lia bêbado pra ver se ficava alguma coisa subliminarmente, hum...nunca funcionou ha ha ha (ou não)! Mas se eu escrevesse um “Guia para Idiotas”, escrito por outro, seria mais ou menos assim:
  • Carl Gustav Jung (um bom nome pra gatos) nasceu lá pela Suiça no fim do século XIX. Era de uma família de pastores luteranos, pai e avô. Dizia a lenda, que talvez ele mesmo propagasse, ser ele descendente do maior escritor alemão de todos os tempos, Goethe. Bem, o pai era pastor, mas a mãe fazia seánces nas barbas do velho, quando este partia em algum trabalho pastoral. Então o menino ia pra igreja nos domingos, vivenciando uma religião protestante e dura, enquanto durante a semana frequentava reuniões espíritas, que começavam a florecer na Europa e EUA. Ele confessou várias vêzes, nos livros dele, ter um medo terrível do Deus cristão, mas se sentia atraído pelas 'experiências' espiritualistas. Muitos psicólogos da época também se interessaram por essas ‘experiências’ paranormais ou 'do além', mas geralmente se decepcionavam quando isolavam os médiuns, ou pacientes, e descobriam que a turma gostava mesmo era de pregar uma peça na ingenuidade dos outros, ou tinham problemas patológicos mesmo. Jung sempre afirmou categoricamente que não acreditava que eram espíritos que falavam pela boca dos outros (e até ficava mal pra um cientista entrar numa dessas), mas certamente a curiosidade foi atiçada por esse universo de transes, vozes, e comportamentos além da explicação. Também aprendeu Latim aos 8 anos de idade, o que o ajudou bastante nas pesquisas em livros antigos sobre religião, gnose, alquimia e filosofia.
  • Os grandes temas, que ele desenvolveu ao longo de seu muitos livros, foram os ‘Arquétipos da Humanidade’, o ‘Inconsciente Coletivo’, o papel do Inconsciente e sua influência sobre o Consciente (umas das primeiras fissuras com a amizade de Freud), e a busca árdua em conhecer esse ‘Inconsciente', o que no final levaria a pessoa ao processo de ‘Individuação’. O ser humano seria um ‘Indivíduo’ (completo e em equilíbrio), quando mergulhasse e entendesse esse misterioso ‘Inconsciente’, que era tão ativo e ‘inteligente’ quanto o mais famoso ‘Consciente’. Aquele ‘Inconsciente’ também se comunicava com o ‘Consciente’ através de mensagens criptografadas, principalmente através dos sonhos e dos símbolos. Se não foi ele quem criou essas idéias, certamente elas ficaram marcadas como algo “jungiano”. Nunca ficou bem claro pra mim ( e acho que pra um bocado de gente), o que ele queria dizer com arquétipos. Se eram representações mentais, imagens, de dados biológicos inerentes a todo ser humano (DNA mesmo), ou um herança espiritual da humanidade (abrindo margem pra o misticismo e obscurantismo de que era tão criticado). No sopão do Jung então, de repente, um monte de gente sentiu que dava pra usar as teorias dele pra alguma coisa, principalmente os religiosos e teólogos, já que entre os arquétipos havia uma boa chance de se encaixar Deus no esquema, como uma idéia inerente à maioria da humanidade, assim como imortalidade, entre outras.
  • Mas desde o começo ele também ficou famoso por desenvolver uma prática de consultório, onde o paciente era estimulado por uma palavra, e tinha que responder com a primeira que viesse à mente. Com isso, segundo ele, o médico poderia descobrir, ou ter uma idéia do 'complexo', ou 'constelação arquetípica' (vai que é mole) do paciente. Quem nunca chamou alguém de ‘complexado’ que atire a primeira pedra! Você já era jungiano e não sabia!
  • Também ficaram famosos nos livros dele os 'Tipos Psicológicos', hoje tão propagados por qualquer Lair Ribeiro da vida: o Introvertido e o Extrovertido, cada um com uma maneira peculiar de enxergar a vida. Essa talvez seja a contribuição mais permanente dele hoje em dia, difícil de derrubar.
  • Nos primeiros anos do século XX, inicia-se aquela que seria uma verdadeira amizade de Titãns, entre ele e Freud. Por incrível que pareça, Jung era mais conhecido nos meios médicos da Europa do que o fundador da psicanálise, que ainda era considerado obscuro, e conhecido apenas nos círculos de Viena. Eles tinham um verdadeira admiração um pelo outro, e trocaram centenas de cartas e idéias. Freud o admirava como filho (ou paixão mesmo?) e tinha em Jung o cara com a capacidade intelectual para levar o bastão a frente.
  • Lá pelas tantas, Jung achou que o velho Freud tava numa de dogmatizar (palavras de Jung), tentando amarrar alguns pontos sem nó da teoria freudiana, principalmente os da sexualidade, traumas infantis, édipo etc, com 'verdades inquestionáveis', inaceitáveis para um cientista (do tipo "é assim porque tem que ser assim"), tudo em nome de uma estabilidade maior no sistema de pensamento dele.
  • Freud, por outro lado, acusou Jung (com certa razão) de seguir por um caminho não científico e místico, e que estava 'viajando na maionese'. De tanto ler Jung, eu só conheço a versão dele, que dizia que o ser o humano era complexo e rico demais, que a vida era grande demais, pra você ter medo de arriscar, e até mergulhar no vácuo, ser fosse preciso, se houvesse a mínima chance de acertar. Ok. Isso não quer dizer que no final, como o acusam, ele não tenha criado uma estória mais rica que a de Harry Potter! O ser humano é capaz!
  • Assim, já no fim da vida, o velho Jung atirou pra todos os lados, sem medo de perder a reputação de cientista, ou coisa que o valha, tipo tentar provar que a astrologia tinha fundamento (o que ele chegou a conclusão que não), depois de uma porrada de experimentos com centenas de pessoas, com mapas astrais meticulosamente traçados por especialistas etc. No fim, numa parte maçante do livro, ele chega a conclusão que não chegou a conclusão alguma, mas o velho tentou pra cacete, sem medo de ser feliz. Também tentou a mesma coisa com o I-ching, e chegou a conclusão que o negócio funcionava pra ele, embora tivesse um bocado de gente que não concordasse, mas ela não tava nem aí. Nas próximas postagens Robelix vai dar uma olhada nos temas mais populares dele (viraram cultura POP mesmo), ou seja, a ‘Sincronicidade’, Alquimia, e a aproximação com as religiões e filosofias orientais. Vai na bola!

sábado, fevereiro 12, 2005

Mais sobre música e bar (A Turma do Funil)

Recebi hoje o comentário inaugural desse blog meio desorientado! O prezado leitor questionou o meu esquecimento da música "Garçon" de Reginaldo Rossi, no texto sobre Renato Teixeira. Eu tive até um frio na barriga, pois a coisa era caso justificado para fuzilamento no paredão do Forte das Cinco Pontas, no Recife, onde morriam os considerados traidores deste Pernambuco nosso! Sim, porque aqui temos muito orgulho das nossas coisas boas (embora façamos um vista grossa terrível pra os nossos defeitos!). Eu adoro a frase que diz que não nos pronunciamos pernambucanos, pelo mundo afora, para não constranger e humilhar os outros! Depois de ficar "matutando" um pouco na letra do Rei Reginaldo, cheguei à conclusão de que a música é boa pra caramba (umas das minhas favoritas ), embora mostre apenas um lado, dos muitos, dessa coisa de bar, ou seja, é música de "roedeira", "dor de cotovelo", "é gaia", e por aí vai. O cara foi rejeitado, levou um pé na bunda, e foi pro bar alugar o garçon e beber até "esborrar pelas oreia", perfeito! Há também duas ótimas linhas que ele diz: uma é "que no bar todo mundo é igual" (eu ia até acrescentar "alcoólatra", mas aí é sacanagem). Outra é "que pra matar a tristeza só mesa de bar". Melhor do que qualquer terapia ou comprimido, sem dúvida. Mas pra não correr mais riscos, dei uma olhada por aí na web, e pesquisei alguns caras que escreviam música pra cacete, e que bebiam "socialmente", que dizer, todos os dias, acompanhados de, pelo menos, mais um ser humano, ou seja, o dono do bar, o garçon, ou qualquer pinguço que viesse pedir uma bebida: Vinícius, Chico e Tom. A pesquisa foi rápida, que esse negócio de ser blogueiro toma um tempo miserável, mas no meio de coisas belas que achei, que falavam de bar, eu dei de cara com aquela preciosíssima "A Turma do Funil". Meus olhos até marejaram, juro, que poesia! Aquilo não é música pra se comentar num blog, mas escrever um livro! Aquela sim, era uma boa concorrente à de Teixeira, pois mostra um lado mais amplo, como também alegre e irresponsável da experiência de bar. Só um destaque para o verso que diz "Eis que da porta do fundo, do oco do mundo, desponta o cordão...". Achei demais esse anúncio, essa espectativa em torno dos heróis mitológicos que estão para entrar no recinto, como num Maracanã lotado e os fogos de artifício explodindo, e o time subindo as escadas dos vestiários, e pisando no gramado. Chegou a Turma do Funil! E eu que tenho essa gravada por Elizete Cardozo! Ainda vou dar uma olhada, por esses dias, ver se encontro umas gravações de músicas irlandêsas de bar, se tem alguma boa por lá. Eu vou até parar por aqui que minha língua tá ficando seca, colando no céu da boca, salute!

Turma do Funil

Composição: Antonio Carlos Jobim / Chico Buarque / Mirabeau/Oliveira/Castro

Quando é tão densa a fumaça
Que o tempo não passa
E a porta do bar já fechou
Quando ninguém mais tem dono
O garçom tá com sono
e a primeira edição circulou
Quando não há mais saudade, nem felicidade
Nem sede, nem nada, nem dor
Quando não tem mais cadeira
tomo uma besteira de pé no balcão
Eis que da porta do fundo
Do oco do mundo
Desponta o cordão

Chegou a turma do funil
Todo mundo bebe
Mas ninguém dorme no ponto
Ah, ah!
Mas ninguém dorme no ponto
Nós é que bebemos
e eles que ficam tontos, morou
Eu bebo sem compromisso
É o meu dinheiro
Ninguém tem nada com isso
Enquanto houver garrafa
Enquanto houver barril
Presente está a turma do funil

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Hino da mesa de bar


Renato Teixeira

Em "SENTIMENTAL EU FICO", Renato Teixeira escreveu o hino definitivo da mesa de bar. Pra completar, a música foi gravada por Elis Regina no disco "Elis", ainda com a participação do marido César Camargo Mariano nos arranjos e piano. No mesmo disco, outra música de Teixeira, "Romaria", foi gravada, e se tornou num sucesso nacional. "Romaria" foi tão tocada nas rádios que acabou por ofuscar as outras músicas do disco. Eu diria até que esse verdadeiro "credo apostólico boêmio", que é a música "Sentimental", acabou caindo na obscuridade, mas é uma música que ainda surpreende pela sabedoria boêmia, cantada com um pouco de ironia fina, mas de saudosismo também pelos "grandes projetos tolos e combinados que perecem com a luz da manhã", ou " quando sento na mesa de bar eu sou um lobo cansado e carente de cerveja e de velhos amigos". Toda vez que ouço esse verso "carente de cerveja", me dá uma secura imediata na garganta, e beber alguma coisa se faz necessário! Destaque também para essa parte do 'credo' dos 'Alcóolatras Com Um Pingo De Juízo', onde diz que mesa de bar é pra se encontrar a 'manguaça' e, TAMBÉM, os AMIGOS. É lugar de diversão e de loucura, mas também solo sagrado, ou melhor, 'toalha de mesa sagrada' , de grandes papos, e de construir grandes amizades, como diria o Poetinha (com maíuscula mesmo) Vinícius: nunca fiz um amigo numa leiteria! A música é genial em todas as linhas e tiradas, e ficaria difícil, e longo, discutir uma por uma, mas certamente Renato Teixeira tinha conhecimento de causa quando a escreveu, ou então ele é mais gênio do que eu pensava! Um último destaque, que remete para a discussão postada abaixo "Mr Zimmerman II", onde Teixeira falou quase a mesma coisa que Bob no meu sonho: (você tem que ter) "um olho em Deus, o outro com Satã". Será que ele andou tendo os mesmos sonhos, eu hein? Ele sempre vai ser conhecido por "Romaria", "Amanheceu, peguei a viola", e outras, mas pra o blog do Robelix, "Sentimental Eu Fico" vai ser sempre sua obra-prima!

Sentimental Eu Fico - Renato Teixeira

Sentimental eu fico
Quando pouso na mesa de um bar
Eu sou um lobo cansado carente
De cerveja e velhos amigos

Na costura da minha vida mais um ponto
No arremate do sorriso mais um nó
Aqui pra nós cantar não tá pra peixe
Tem coisa transformando a água em pó

E apesar de estar no bar caçando amores
Eu nego tudo e invento explicações
Amigo velho amar não me compete
Eu quero é destilar as emoções

Sentimental eu fico . . .

E os projetos todos tolos combinados
Perecerão nas margens da manhã
Uma tontura solta na cabeça
Um olho em Deus e outro com satã

E quando o sol raiar desentendido
Eu vou ferir a vista no amanhã
E olharei para quem vai pro trabalho
Com os olhos feito os olhos de uma rã.

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Morre Luizão Maia


Mestre Brasileiro

Morreu nesse fim de semana, em Tóquio, um dos maiores baixistas brasileiros de todos os tempos. Já se passaram dois dias e, até então, nem uma notinha na imprensa brasileira, embora eu já tenha visto no Uol que o gringo do baterista Capaldi faleceu no mesmo dia! Triste sina essa de ser brasileiro e instrumentista ao mesmo tempo, que ironia! Quanto melhor você for, menos lembrado serás, e se inventas de tocar um tal de contrabaixo, que as pessoas geralmente perguntam "o que é que aquele outro guitarrista está fazendo no palco, que eu não ouço nada", aí é que a coisa complica. Fico imaginando, quando uma dessas cantoras baianas morrerem, se vamos ter luto oficial e bandeira a MEIO PAU BROCHADO! Luizão começou a tocar nos meados dos 60 e foi o precursor e mestre maior do samba no baixo elétrico. Tocava de maneira percussiva, como se fosse um bumbo, uma verdadeira patada nos coitados dos instrumentos que ele tocava. Em pouco tempo, se tornou o número um dos estúdios brasileiros, e veio a tocar, praticamente, em todos os discos clássicos da música brasileira até os anos 90, a começar pelos de Elis Regina, com quem passou 13 anos trabalhando, especialmente "Tom e Elis". Foram mais de 1.000 participações em gravações, e muito mais em shows e excursões ao exterior. Ele também era tio de Artur Maia, outro bamba do baixo (Djavan, Gil e Bosco, entre outros) que é quem está em Tóquio tentando fazer o translado do corpo para o Brasil. Saudade Luizão! Abaixo, uma "listinha" do pessoal com quem ele gravou ou tocou:
Tom Jobim, Elizeth Cardoso, Cartola, Elis Regina, Clara Nunes, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Nara Leão, Nélson Cavaquinho, Roberto Ribeiro, João Nogueira, Beth Carvalho, Alcione, Maria Creuza, Emílio Santiago, Simone, Gal Costa, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Quarteto em Cy, Luiz Bonfá, João Bosco, Djavan, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Marcos Valle, Chico Buarque, Toquinho, Oscar Castro Neves, Rosa Passos, Lee Ritenour, Toots Thielemans, George Benson, Wayne Shorter, Lisa Ono , entre outros, num total superior a mil gravações realizadas.

Claudinha Telles (Final)

Essa semana mandei pra Claudinha Telles o restante das fotos que minha mãe tinha no álbum velho. Eram fotos que Menescal não aparecia, pois era ele quem estava fotografando. A resposta dela me deu um frio na barriga, porque ela não só agradeceu e colocou as fotos no blog oficial dela, como publicou também o e-mail que eu escrevi , na íntegra, e o e-mail não era o que se poderia chamar de um telegrama, que eu tava com vontade de escrever, e eu até achei que ia encher o saco, mas... O frio na barriga foi porque eu nunca tinha escrito pra tanta gente, sem saber, mas foi legal ler os comentários que já começaram a aparecer. Uma experiência interessante. O blog dela é http://claudiatelles.festim.net/archives/2005_01.html , e vale a pena dar um conferida. Lá tem notícia de gente que tava sumida por uns tempos, como Sá, Rodrix e Guarabira, que voltaram a fazer shows no Rio, muito bom!

domingo, janeiro 30, 2005

Mr. Zimmerman II

Bob veio a mim num sonho, e explicou tudo direitinho sobre a questão da música pra Lenny Bruce: "é muito simples", ele me explicou com aquele inglês ininteligível dele. Lenny e Jesus são um só. Os dois pensavam além do tempo deles, quebraram regras, escandalizaram e desmascaram a hipocrisia da sociedade da época. Por isso, continuou, foram banidos, perseguidos, presos, julgados, condenados e mortos, injustamente, pelos que detinham o poder. Simples. Poxa, Bob, com você explicando fica até fácil! Eu ainda perguntei se não era uma contradição ele, Bob, ter se bandeado justamente pro lado daqueles que condenaram Lenny, e seguiam a Jesus apenas na fachada. Ele foi inclusive batizado numa igreja batista, por imersão total num tanque e tudo mais, mas ele desconversou e começou uma longa estória rápida e desenfreada " sobre opostos contrastes antagonismos ying e yang Jung budismo etc que minha cabeça começou a doer dizendo que se você quiser conhecer a Deus você tem que entender essa estória direitinho e parar com essa de procurar um Deus que é só 'bondade' mas 'maldade' também 'justiça' e 'injustiça' e por aí vai sempre contendo os opostos que são o símbolo da perfeição da plenitude sentar no colo do diabo e brincar e num minuto correr de volta pros jardins de Deus Amem!" Eram 4 da manhã, e eu não tive nem tempo de abrir a boca de novo, pois ele já me disse que tinha que partir, pois tinha que ordenhar duas vaquinhas na fazenda dele, e partiu cantarolando algo que eu não reconheci, com um palitinho de dentes no canto da boca! Depois que acordei fiquei achando que, naquele sentido, o disco não era tão contraditório assim. Fui ver a letra de novo, só que desta vez coloquei o nome de Jesus onde tinha Lenny Bruce, e a charada se desfez, na maior parte da música, de uma maneira impressionante. No fim pelo menos eu estava certo quando achei que a música parecia um hino, porque era mesmo!

Jesus Christ is dead but his ghost lives on and on
Never did get any Golden Globe award, never made it to Synanon.
He was an outlaw, that's for sure,More of an outlaw than you ever were.
Jesus Christ is gone but his spirit's livin' on and on.
Maybe he had some problems, maybe some things that he couldn't work out
But he sure was funny and he sure told the truth and he knew what he was talkin' about.
Never robbed any churches nor cut off any babies' heads,
He just took the folks in high places and he shined a light in their beds.
He's on some other shore, he didn't wanna live anymore.
Jesus Christ is dead but he didn't commit any crime
He just had the insight to rip off the lid before its time.
I rode with him in a taxi once, only for a mile and a half
Seemed like it took a couple of months.
Jesus Christ moved on and like the ones that killed him, gone.
They said that he was sick 'cause he didn't play by the rules
He just showed the wise men of his day to be nothing more than fools.
They stamped him and they labeled him like they do with pants and shirts,
He fought a war on a battlefield where every victory hurts.
Jesus Christ was bad, he was the brother that you never had.

sábado, janeiro 29, 2005

Mr. Zimmerman

Passei a manhã ouvindo seu Dylan a cantar. Tive a chance de vê-lo em Atlanta no ano passado e foi coisa pra não mais esquecer. Casa lotada, e eu em pé perto do palco pra ver o baixinho. Pra completar, ainda dava pra comprar cerveja num dos balcões laterais do teatro :) Uma música que sempre gostei, que ele não tocou, foi "Lenny Bruce" do disco "Shot of Love": uma balada, ou melhor, praticamente um hino batista, belíssima. Eu nunca parei pra prestar atenção na letra, e olhe que já ouço essa música desde que o disco foi lançado, em 1981! O disco ainda foi na época da conversão dele ao "cristianismo-protestante-americano-linha-dura-conservador-batista", ufa, e ainda cabia mais nome :( . Sem vergonha de ser ignorante, fui checar a letra da música direito, que falava do tal Lenny de maneira contida, mas mostrando admiração por um ser humano que não tinha nada de perfeito, e nem queria ser modelo pra nada ou ningúem, mas que era belo. Tudo bem, mas aí tive que ir no Google de novo pra saber quem diabos era Lenny Bruce, se é que ele tinha sido de carne e osso, ou existido fora da cabeça de Dylan! Num instante começei a rir, não por causa de Lenny (que é aquele mesmo do filme com Dustin Hofman), mas por causa da loucura de Bob em fazer uma música tão bonita, elogiando um herói underground, num disco cheio de músicas de inspiração judaico-messiânico-cristãs (é hoje)! O tal Lenny Bruce tinha sido um comediante de "stand up comedy", daqueles que enfrentam o público sozinhos, contando "causos" e piadas nem sempre politicamente corretas. O cara tinha sido perseguido, julgado e condenado não sei quantas vêzes pela mesma sociedade e religião que Bob agora fazia parte! Lenny, embora tivesse ganhado muito dinheiro, morreu pobre e quebrado pelos muitos processos e advogados, falido, numa over de heroína. Cheguei à conclusão, e não é a primeira vez, de que Mr Zimmerman, como Lenny Bruce, sabia como realmente deixar uma platéia perplexa. Abaixo, alguns trechos da música:
"Lenny Bruce is dead but he didn't commit any crime
He just had the insight to rip off the lid before its time...
They said that he was sick 'cause he didn't play by the rules
He just showed the wise men of his day to be nothing more than fools...
Lenny Bruce was bad, he was the brother that you never had."

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Uma troca inusitada de e-mails


Disco Novo nas paradas

Coisa de quem não tem o que fazer, mas que foi legal ter feito, foi esse e-mail que mandei pra Claudia Telles, filha da Silvinha, depois que achei aquelas fotos do fundo do baú. Ela também é cantora das boas, e ainda está bem ativa no sul do país:

"Oi, Cláudia, minha mãe encontrou estas fotos antigas enquanto arrumava o guarda-roupas dela. Elas foram tiradas em Natal RN em 1959! Só por brincadeira, tive a idéia de mandá-las para o Menescal, já que ele está nelas, mas não encontrei um e-mail dele na web. Sem querer, encontrei o seu site e, bem...acho que você vai gostar. Eu só fiz o scan dessas duas porque as outras 3 ou 4 estavam ainda coladas no álbum, mas eu posso mandá-las pra você depois, e com melhor qualidade e resolução. Um abraço e boa sorte na carreira! Peace!"

Ao que ela respodeu, em menos de 24 horas (viva a internet!):

"Oi Roberto, que coisa boa ver essas fotos. Quero ver as outras sim, por favor.Vou tentar achar o e-mail do Menescal, ele vai amar! Beijos e super obrigada. Claudia Telles"

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Buk Chinaski


O velho safado fazendo pose

Num blog de cachaceiro, não poderia deixar de receber a visita ilustre do caneiro-mor Bukowski, que dizia escrever pra não ficar louco, quer dizer, mais do que já era. Umas das minhas passagens favoritas é uma que fala dos garis que vêm pegar o lixo de madrugada. Eles ficam parados na frente da lata dele, olhando um para o outro, impressionados com a quantidade de garrafas. Da janela do apartamento, o velho ainda acordado sorri, e levanta a garrafa de cerveja num brinde aos garis, como dizendo "é isso aí meus filhos, tomei uma por uma, e agora vocês podem recolher tudo!". Bravo, Buk, quer dizer, tin tin!

Pérola perdida num álbum empoeirado


Roberto Menescal, Silvinha Teles e Mami em 1959!
(clique para ampliar)

Enquanto arrumava o guarda-roupas, minha mãe achou essa pérola, tirada em Natal-RN há uma porrada de tempo atrás. Na foto, Silvinha Telles, de lenço preto, umas das musas da bossa nova (quem não conhece Dindi, de Tom, feita pra ela) e Roberto Menescal, um dos papas até hoje, não só como violonista e guitarrista, mas como produtor, principalmente de Leila Pinheiro. Eles estavam numa tour pelo Nordeste e passaram um dia na praia passeando. Na foto também, Ana Cascudo, filha do folclorista famoso que foi até cédula do nosso dinheiro, nos anos 80.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Eu, depois de um regime


Auto Retrato

Este dinheiro que eu estou pisando é a fortuna que eu ganho (sonha) no meu emprego, em troca de duas úlceras, e uma aposentadoria precoce internado num manicômio!

Concurso Literário II

No concurso, acabamos mandando algumas poesias antigas nossas, pra tentar aumentar as chances de alguma premiação. A organização do concurso é muito maior do que pensávamos, e no encerramento acontecerão palestras por escritores conhecidos e parece que até a Ruth Cardoso vai estar por lá. Por outro lado deve haver um bocado de profissionais escrevendo pra esse negócio e talvez tenhamos que ir a Porto pagando a estadia mesmo, que fazer! Mais aí vai um que submeti, escrito há uns dez anos, que fazia parte de um conjuto de três chamado "Crise dos Trinta", escrito no auge das bebedeiras no baixo do Jiriquiti (Ilha do Leite), onde morava:

Quadro na Parede


Nave perdida em mares remotos

És tu minha vida

Remos partidos deixaram-te ao léu

Bravos marujos entregaram-se ao vinho

Em cópulas com belas sereias

Antropofágicas


Onde está a bússola precisa?

O saber de correntes e estrelas?


O norte agora é o erro

São rochas famintas de cedros

Mastros erguidos ao fundo

Num belo retrato de naufrágio

Concurso Literário

Semanas atrás descobrimos um concurso literário em Porto de Galinhas. É um concurso de contos e poesias, com premiações de finais de semana em Porto, como também a publicação numa coletânea. Resolvemos dar uma "esquentada nos tamborins" nessa estória de escrever e bolamos um conto sobre um cara que vai passar um fim de semana na praia e conhece uma deusa do amor, tendo com ela uma noite de amor explosivo (quer dizer, sexo do bom mesmo). Fizemos nas pressas, mas ficou bom, e a estória tem algumas reviravoltas também. Vou tentar publicar em partes aqui.

Por falar em crônicas

Juntei-me com um amigo pra provar que mesa de bar também é cultura e estamos escrevendo uma novela em conjunto. Alguns capítulos já foram escritos e a maioria das personagens já foram criadas. A novela é sobre um prédio de apartamentos e seus moradores, especialmente o major aposentado da Aeronáutica que passa os dias a ler jornais numa mesa perto da janela, e a observar a vida dos outros também!

Inaugurando o Robelixblog

Eu não sei que idéia genial foi essa de ter um blog, mas quando eu vi já tinha feito um. Na verdade eu nem sei pra quê eu quero ter um, mas quando as coisas são de graça a gente fica tentado a aceitar. Talvez tenha inventado essa estória como pretexto pra praticar algumas crônicas do dia a dia e contar as últimas do Brasil aos amigos distantes, ou falar de livros e música também. Vamos ver no que é que dá. Ah, o nome do blog é um apelido que me colocaram não só por causa do meu tamanho, mas pelo amor àquelas poções mágicas, tipo cerveja, maltado escocês, cachaça etc!