quinta-feira, fevereiro 17, 2005

O Sopão do Jung III (O Oriente e o Ocidente)

Os teólogos não poderiam pedir mais de um homem secular, das ciências. No mundo de Jung havia bastante espaço para o sagrado, e até para Deus, embora Jung fosse provavelmente ateu. Apesar de originariamente ser protestante, ele sempre fez muitas concessões à Igreja Católica. Ele considerava o mundo protestante bastante 'estéril', em termos de imaginação e simbologia, a começar das paredes das igrejas, desprovidas de qualquer imagem, mistério, de 'espanto' por um Deus que deveria ser terrível e incomensurável. Por outro lado, ele considerava os católicos como os verdadeiros herdeiros do cristianismo, e que tinham pelo menos Maria como uma verdadeira representante da Anima, a famosa representação feminina no inconsciente masculino; mais um arquétipo. Ele também geralmente aconselhava os pacientes a se manterem na religião dos pais deles, que não fizessem ruptura alguma, o que ele considerava mais saudável para a vida psiquíca, daí não ser espanto o fato dos livros dele serem editados no Brasil pela Vozes, uma editora católica.
  • Jung também chamou a atencão do Ocidente para as filosofias e religiões orientais. Ele via um paralelismo tremendo entre a psicologia dele e as técnicas de meditação de ioga, como também o Budismo. A busca pelo ' Nirvana' era, para ele, nada mais do que a busca pelo auto-conhecimento do sistema dele. Como não conseguia deixar de ser polêmico, também escreveu sobre o "Livro dos Mortos" dos bardos, onde o vivos aprendiam o que fazer logo após a morte. Jung considerava a 'estrela' do sistema dele, o Inconsciente, como um mar inteiro a ser conquistado, enquanto que a parte consciente do ser humano era apenas uma ilha no oceano. A atitude Oriental de introversão era muito interessante para ele, que achava-a mais adequada ao auto-conhecimento. Mas ele sempre fez questão de ressaltar que a prática de religões orientais pelo homem ocidental, ou meditação, tipo Ioga, eram, no mínimo desajeitadas, e não muito apropriadas. Ele achava que a bagagem ocidental era pesada demais pra se livrar assim facilmente, e que ningúem jamais se livraria dela sem artificialismos. Certamente ele foi testemunha do interesse e modismo, até hoje, pelo pensamento oriental, geralmente com uma abordagem rasa, sem a experiência e a visão do mundo de um oriental.
  • Os alquimistas medievais também entraram nos livros dele (tinha espaço pra todo mundo!). O caso dele com os velhinhos da idade média, é que eles não só tentavam transformar qualquer metal em ouro (o que ele considerava mais lenda do que tudo), como também eram parte de grupos gnósticos, de procura do conhecimento. Os caras também foram os primeiros químicos e predecessores dos cientistas modernos. Mas não era só a questão do alquimistas serem gnósticos (Gnose=Conhecimento), ou seja, aquela mistura do criolo doido entre filosofia, religiões 'pagãs', ou para-cristãs, e por aí vai. Jung também achava que o manusear dos metais, elementos, do fogo, fusão etc eram uma alegoria da busca pelo auto-conhecimento, da introspecção, da projeção do inconsciente, e sai da frente.
  • Havia também muito espaço para os considerados heréticos pelo cristianismo, e ele mergulhou fundo nos evangelhos gnósticos, como também no misticismo cristão da idade média. Tudo isso ele fez em busca de simbologias, arquétipos, comportamentos, e de entender como Deus era visto em diferentes épocas e culturas.
  • Toda essa bagagem e esse 'fuçar' em livros escritos em linguagens mortas, como pesquisar as muitas facetas psicológicas de diversos povos, culturas, levaram-no a escrever livros complexos, cheios de referências em Latim, gravuras antigas, muita Arte, e muita história da religião. Ele não tinha dificuldade, ou constrangimento algum em mexer em vespeiros, levantar pedras cheias de cobras embaixo, num eruditistmo impressionante.
  • Já no fim da carreira, escreveu dois livros bombásticos, onde ele mexia numa verdadeira casa de abelhas: o aspecto psicológico da imagem, ou arquétipo, de Cristo, no livro "Aion", onde ele tenta mostrar o porquê do sucesso do cristianismo, surgido no ápice da manifestação, no 'Inconsciente Coletivo' dos povos, do "deus que se torna homem", e vai ao 'Inferno' (Inconsciente) por três dias para resgatar a alma de todos. O livro foi um verdadeiro coquetel molotov nos meios eclesiásticos, e mal a Igreja tinha se recuperado, ele veio com o segundo livro, chamado " Uma Respota a Jó", onde ele, desta vez, põe na berlinda a imagem de Deus segundo o cristianismo!
  • Na próxima postagem, uma pincelada nesse segundo livro que causou tanta polêmica. Leia por sua conta e risco!

Um comentário:

Romero Maia disse...

Interessante esse interesse de Jung pela doutrina da igreja. Fiquei me perguntando, como não li os livros, se ele sabia que existem registros históricos de que Jesus mantinha forte relações com os gnósticos e essênios. Daria um terceiro livro!