quarta-feira, março 07, 2007

The King Of Cool

Um amigo morria de rir com a pronúncia de Nat em espanhol ou ficava imitando "The King Of Cool" a cantar "Monalisa", sempre abrindo bem o "a" final:

--Monalissaaa, Monalisaaa!-- Achávamos engraçado, mas éramos fãs do negro de voz macia e sofisticada e que também tocava piano como poucos da geração dele.

Mês passado, me peguei procurando por músicas de Nat King Cole, numa daquelas noites nostálgicas, quando qualquer barulho ou desarmonia já seriam estopim pra um ataque de nervos. Comecei a baixar umas músicas pra lá de antigas, que me retomavam à minha infância, quando vivia mexendo nos velhos vinis de meu pai pra ouvir o cara que, antes das gravações, fumava, em cadeia, cigarros mentolados "Cool"! Às vêzes fico rindo daquela técnica nada ortodoxa e politicamente incorreta, provavelmente seguida por Sinatra e Bennett, de trabalhar a voz com bourbon, monóxido de carbono e nicotina! Provavelmente os mesmos cigarros acabaram com ele num câncer fulminante de pulmão, mas que a voz era bonita, isso era!

Quando a noite começou hoje, acabei por desencavar uma garrafa contendo algumas horas de Johnnie Walker e fiquei zanzando pelo Youtube, procurando por vídeos de Nat. Achei coisas raríssimas e belas. Vários duetos com Ella Fitzgerald, com Mahalia Jackson, este último, por sinal, emocionante, e até um com Billy Preston, o genial tecladista, na época com uns 10 anos de idade!

O que mais me empulha, pra usar a palavra certa, é o desempenho dele como pianista, coisa que era abafada pela carreira genial como cantor. Nos vídeos com o trio , formação que praticamente inventou, de piano, baixo e guitarra, ele toca de bandinha para o piano e de frente para a platéia! Sempre achei essa postura coisa de pianistas de Blues, nos bares "Honky-Tonky" enfumaçados da América, mas ali estava a própria sofisticação em pessoa tocando com uma naturalidade que até incomoda a quem é músico, cantando e rindo. Perfeito! É incrível como quase não se ouve Nat King Cole ou quase nada que preste nestes dias...

Fim de noite. O relógio já bate ( como se eu tivesse um que batesse!) umas 11 da noite. O cinzeiro já vai abarrotado, não de Cools, mas enfim...As pedras de gelo já boiam na última dose (como se eu medisse em doses!), quando decido arrematar minha noite inebriante com Nat King Cole. Mas aí  acontece uma daquelas coincidências de deixar um cara pensando...ou melhor, a coincidência já estava acontecendo há um bom tempo, e eu não sabia.

Estou eu aqui feliz com essas facilidades da Internet e uma boa conexão, é claro, de poder, num estalo, resolver ouvir e ver alguém e, de fato, em segundos, estar com o vídeo na sua frente. Resolvo fechar a sessão com algumas informações biográficas, acho que na Wikipedia. Abro a página que mostra-o um pouco sério, num terno impecável e, de repente, esbarro na data da morte dele...

Há exatos 42 anos, num mesmo 15 de Fevereiro (hoje), falecia "The King of Cool", Mr Nat King Cole... Na verdade eu não sei de onde veio essa idéia de ouvi-lo. Eu agora não consigo lembrar de coisa alguma que tenha disparado essa vontade, mas, como sempre, também não perco muito tempo querendo explicar coincidências: digamos que eu interpretei a coincidência assim: é pra divulgar aqui no robelixblog a existência deste artista extraordinário que, em 1965, resolveu ir cantar em outras freguesias mais afortunadas do que a nossa. Emborco o final da mistura de malte com água e vou dormir cantando "unforgettable, that's what you are"...



Um comentário:

Blogart disse...

É, mas inglês ele falava melhor do que os branquelos, talvez para se fazer mais palatável aos segregacionistas do Alabama. Também tenho boas lembranças de tardes preguiçosas de domingo ouvindo o Stardust de Nat nos lps de papai.