quinta-feira, junho 01, 2006

Uma conversa com o espelho e a música

Agora eu me pergunto como é que eu poderia ser diferente do que sou esse místico introvertido réu não confesso ao ponto de ser seduzido pelo objeto do mundo lá fora pelo que está por trás do véu de Maia dos budistas eu com toda aquela pressão católica por parte dos pais igreja primeira comunhão e depois eu mesmo o salto de fé crer porque é absurdo e loucos por causa da cruz de Cristo Kierkgard Agostinho Tomás e toda aquela balbúrdia de teólogos que existiram e mais uma porrada nascendo todos os dias nos quintais das igrejas todos à boca miúda revelando a poucos a nova revelação aquela que ninguém vê por que estão perdidos o mundo está perdido sim porque o espírito fala a todos e revela todos os dias um novo credo uma nova revelação a verdadeira interpretação da porra de uma vírgula do livro de Jó e que muda toda a visão e o conhecimento da vontade de Deus pra os homens e eu achando pouco indo mais fundo no meu vigor de coroinha cheio de juventude e credulidade em auto flagêlo na perda daquela mesma juventude em cânticos louvores orações jejuns anjos demônios e endemoniados lutas celestiais revelações provações tentações vitória do espírito sobre a carne e vice-versa sonhos profecias e apocalipses e depois... e depois a queda o vazio o abandono a solidão que estava lá o tempo todo mas eu não sabia e as bebedeiras a nau a perder-se em mares desconhecidos eu um adulto que parou aos 16 pra vida real humana agora sem deus ou um deus que não interfere que não se importa não mais um deuzinho pessoal amigão que vai a todo canto como um chaveiro
Como se livrar de todo esse passado carregado de loucura e transes? Aí vem o pouco que gostei de Krisnamurti: deixa estar, ou seria let it be dos Beatles ou let it bleed dos Stones? De qualquer forma consegui paz ao aprender a aceitar essas imagens que vêm de um passado recente que, queira eu ou não, fazem parte de mim. É minha estória. Eu apenas fico ali tipo meus amigos espíritas quando ouvem um ruído na casa: se é de paz pode entrar, irmão! Deixa rolar sem julgar, sem tentar fechar a porta, que não adianta.

E no meio de tudo isso, como um milagre, que ironia! Uma florzinha nasce bem no meio da calçada movimentada: Música. Aprender música naquele ambiente tão místico foi muito importante e me jogou nesse mundo musical já como um veterano. Um amigo blueseiro me definiu o que é tocar Blues: "É criar uma atmosfera em torno da música, que é muito simples, mas onde as pessoas vão se sentir bem, ou vão sentir dor, ou vão ter força pra enfrentar a mesma dor."

Quando vejo dali do palco as pessoas de olhos fechados, às vezes se emocionando com uma estória que às vezes nem é a delas...eu fico me perguntando, e aí pessoal, o que é que tá pegando, tá bom, tá doendo? Não é muito diferente dos meus 16 anos, já tocando num ambiente cheio de mistérios, manuseando algo que eu nem entendia direito, o poder da música, tentando trazer a presença do próprio Deus para o lugar. Acho que hoje continuo talvez sendo o mesmo. Sim, ainda sou o mesmo. Quem mexe com esse negócio de música entende o que estou falando, que música é apenas mais um tipo de oração, talvez a única que ainda consiga praticar...

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá querido. Deixando recado só para dizer que li seus 3 textos mais recentes. Adorei todos e não deixe de escrever sobre o Blues no Recife. Bjão!

Anônimo disse...

Hum, interessantíssimo, uma passagem, infânica, ilusões, descobertas, "revolta", e volta... o hoje, num antes... Um "eu", ser "eu" em abrangência de tudo o que se vive e a boêmia cravada no sangue... Engraçado essa de escrever "alterado", eu também gosto de fazer isso, sái cada coisa, mas nunca mais fiz isso não... Já tentasse escrever no escuro, também é uma viagem! Enfim...
Tu é o cara, num to falando!
Beijoss querido!